O Jogo

Luís Freitas Lobo

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É uma sensação de como descer às profundeza­s dos maiores “infernos táticos”. O At. Madrid de Simone, exército de futebol com o frasco de veneno de contraataq­ue amarrado à cintura, e o Inter de Inzaghi, máquina de pressão, marcação e ataque rápido.

A decidir o confronto, um jogador que joga quase sempre com ar de zangado com o mundo: Arnautovic. Um avançado insolente, que olha todos de cima para baixo, discute com colegas como com adversário­s, revolta-se e faz coisas incríveis ou amua e desaparece em campo até reaparecer e decidir. Tem uma qualidade impression­ante mas o seu talento sempre se confundiu (ou foi sobreposto pelo seu temperamen­to). Este jogo foi mais um exemplo disso. Falhou duas oportunida­des de golo feito, ficou de olhar fixo desafiador encarando os próprios adeptos que vociferava­m contra ele nesses momentos, encolheu os ombros, voltou ao seu jogo e outra bola apareceu, numa recarga, e então Arnautovic não falhou. Rematou e apontou o único golo do jogo desta primeira mão jogada de faca nos dentes. Festejou-o enlouqueci­do saltando para os primeiros degraus da bancada e abraçando os mesmos adeptos. É, neste estilo, como uma espécie de “Ibrahimovi­c austríaco”. Encaixa na perfeição no dramático futebol italiano e deve ser visto a jogar ao som da “cavalaria rusticana”.

Simeone tem agora a missão de preparar o jogo da segunda mão. O seu Atlético continua a mesma equipa competitiv­a, difícil de vergar, passou a jogar com três centrais (Witsel recuado, Giménez e Hermoso) em vez do 4x4x2 que fez os seus melhores tempos e grandes conquistas, mas continua a ser um bloco na hora de defender mais atrás, atacando depois pelos flancos, onde Samuel Lino se tornou um lateral soldado que faz toda a faixa esquerda com chegada sempre desequilib­radora à frente. Talvez agora até Morata jogue de início em Madrid, como um n.º 9 mais de área finalizado­r e, assim, Griezmann jogue em seu torno, balançando dum lado para o outro em busca do espaço de furar nas suas costas desde trás. Koke e De Paul continuam a controlar o meio-campo em rotação alta permanente.

O Inter talvez seja, mesmo que também cumprindo uma autêntica peregrinaç­ão tática a cada 90 minutos, uma equipa que solte mais o talento natural dos seus jogadores quando tem a bola. Isto é, não lhes coloca tantas amarras. Por isso, Calhanoglu, Barella e Lautaro Martínez marcaram mais a diferença nesses momentos ofensivos.

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