Falta criar valor acrescentado
De uma recuperação que poderia ser épica ao prolongar de uma agonia: esta frase poderá resumir o que foi a eliminatória contra a equipa azeri do Qarabag. A verdade é que a equipa do Qarabag se mostrou, de um modo geral, superior a este Braga, que é – sabemo-lo – um Braga em estado de permanente ansiedade. Até à expulsão de Jafarguliyev, o jogo foi equilibrado, com algum ascendente azeri, que criou sempre mais perigo e testou, em algumas ocasiões, a incontestada competência de Matheus. Depois da expulsão, o Braga tornou-se dominante e o jogo ficou propenso para a remontada bracarense. Mas, mesmo com mais um jogador, a equipa não conseguiu deixar de sofrer… dois golos. Dá ideia de que uma espécie de espectro assombra esta equipa do SC Braga, o espectro do cancelamento: a equipa não consegue criar mais valor do que a mera soma das suas partes, que são os jogadores, o que, por vezes, cancela o talento de cada um. Ou seja, na exibição da equipa, assistimos a uma total entrega dos jogadores: estão totalmente comprometidos com o jogo e dão o seu máximo. Mas uma equipa não pode ser só a soma aritmética do esforço de cada um dos jogadores. Tem que existir, numa equipa, a criação de um valor acrescentado: a equipa tem que valer mais do que a mera soma do valor de cada jogador. Tem faltado isso, na minha opinião. Falta-nos equipa,
A equipa tem de valer mais do que a mera soma do valor de cada jogador
não no sentido de que nos falta compromisso, solidariedade ou mesmo empatia ou amizade entre os jogadores. Faltanos equipa no sentido de que nos falta criar valor no jogo, por forma a que o esforço de cada jogador não seja cancelado pela falta de valor coletivo. Será esta a função do treinador: criar valor coletivo. Claro que, neste prolongar de uma letargia em que, sem razão aparente, a equipa parece ter mergulhado, muitos já disparam para solução do costume: mudar de treinador. No entanto, afigura-se-me que, de forma objetiva, nenhuma razão existe, neste momento, para tal medida. Vencemos recentemente um título e estamos na luta pelo 4º lugar, que é o objetivo mínimo para o campeonato. E a luta vai ser dura, pois o nosso rival geográfico está, ao contrário de nós, em estado de exaltação eufórica, com o moral em alta. Não há espaço para lamentações. Só para soluções: é isso que se espera de Artur Jorge, neste momento. Que crie valor num conjunto de jogadores que tem talento e qualidade. A começar agora…