“Vim para ser campeão pela primeira vez na vida”
Líder incontestado do campeonato, o Borneo Samarinda conta com um português nas fileiras: Silvério. O central abraçou uma aventura exótica com ambição desportiva, mas não só
Em entrevista a O JOGO, o defesa formado no Rio Ave não esconde que o fator financeiro também pesou, mas vai mais além. “Quero transmitir a mensagem de que o futebol é para ser jogado”, conta.
Passou por Rio Ave, Famalicão ●●● e Penafiel, entre outros, antes de rumar a um destino pouco usual: a Indonésia. A O JOGO, Silvério, 28 anos, explica as motivações e os planos para o futuro.
Como surgiu a proposta do Borneo Samarinda?
—Através do Zé Valente [médio do Persik Kediri]. Eu vinha de época e meia a jogar com pouca regularidade no Penafiel. Está tudo mais precoce, há maior aposta nos jovens e o futebol também é um negócio. Eles são uma fonte de rendimento para os clubes, é natural... Achei que valia a pena correr algum risco. O Zé Valente abordou-me sobre esta possibilidade. Aceitei, mesmo sabendo que era muito longe. Foi uma primeira mudança radical, mas quis vir.
E o que o levou a aceitar?
—Ainda fiquei um pouco reticente, por ser muito longe. E na época transata houve aqui uma tragédia, em que várias pessoas faleceram na sequência de uma invasão de campo. Uma das coisas que me incentivou foi jogar com estádios cheios, algo que nunca tinha experienciado. Desde esse problema, os clubes só permitem a entrada a adeptos da casa. O meu contrato termina esta época, já tive abordagem do Borneo, querem continuar a contar comigo. Depois de ter saído de Portugal, estou disposto a ficar por cá, mas também a explorar outras situações. Acima de tudo, tento focar-me no campeonato, posso ser campeão pela primeira vez na carreira e esse foi um fator de peso. Depois, poderei tomar a decisão certa.
A vertente financeira é compensatória?
—É um patamar acima da II Liga portuguesa, sem dúvida. Portugal tem muito rigor tático e qualidade, mas, infelizmente, isso não se reflete nos salários e na valorização do jogador. Em Portugal é bom, mas não nos permite olhar para o futuro com segurança. Os contratos são curtos e nada nos garante que as coisas não possam correr menos bem...
A nível de resultados, dificilmente podia estar a ser melhor...
—Sem dúvida. Depois há um play-off entre os quatro primeiros. A nossa vantagem para os de baixo é grande [18 pontos] e tem corrido muito bem, temos uma equipa muito organizada. No plantel, há limite de estrangeiros, mas no Borneo os locais são muito bons e, tendo em conta o nível de estrangeiros similar em todas as equipas, são eles que acabam por fazer a diferença. O treinador é um ex-internacional neerlandês [Pieter Huistra] e o presidente é muito inteligente.
Para quando o regresso a Portugal?
“Os nossos jogadores locais são muito bons e são eles que fazem a diferença” Silvério Jogador do Borneo Samarinda
—É algo que gostaria de retardar um pouco. Quero voltar, mas o futebol é uma carreira curta e há que garantir o futuro. Quero experimentar outros campeonatos e tenho a missão de passar a minha mensagem. Na Indonésia, o futebol era muito à base de agressividade, mas as minhas características são de tentar jogar e é isso que quero transmitir. O futebol é para ser jogado, não é para lutas ou picardias. Tenho de passar essa mensagem, deixá-la noutros lugares.