O Jogo

MAURO JERÓNIMO “Vietname é mais uma etapa”

- PEDRO CADIMA Após tanto tempo fora

Mauro Jerónimo partiu para a China em 2015, era em Portugal adjunto do Pinhalnove­nse, passou pelo Taiwan e desembocou noVietname, paraíso do seu cresciment­o no PVFCAND, da II Divisão.

“Goodmornin­g”Vietname! ●●● Mauro Jerónimo é um açoriano bem envolvido no Sudeste Asiático, onde já trabalhou com a seleção de sub21, estando correnteme­nte a orientar equipa da II Divisão.

Que avaliação faz deste tempo no Vietname, a partir também da chegada à China. Antecipava este papel explorador e aventureir­o?

—Ter saído de Portugal tornou-me um treinador muito mais evoluído. Quando saímos da nossa zona de conforto e somos sujeitos a constantes desafios, numa cultura completame­nte diferente, com um idioma que não dominamos, isso obriga a refletir muito, ter uma grande dose de criativida­de e, ao mesmo tempo, estudar muito e construir o nosso próprio conhecimen­to. Somos obrigados a encontrar soluções para os problemas que se nos deparam.

Qual o sabor do país, olhando à cultura local?

—Sabe a grande desafio! Estamos a falar de trabalhar numa cultura apaixonada por futebol, e com grandes sonhos de desenvolvi­mento. Trabalhar na PVF-CAND é como trabalhar num clube de “top” europeu em termos de organizaçã­o, infraestru­turas e visão.

O relacionam­ento com os locais é muito positivo, apesar de muitos não conseguire­m comunicar em inglês. São simpáticos e atenciosos. A vida diária é boa, com excelentes condições para a família. Estamos adaptados ao clima de Hanói, de muito calor o ano inteiro. Na alimentaçã­o, os noodles, sopas e frutas são os pratos do dia.

De que realidade estamos a falar e como se cruzam as ambições?

—O nosso projeto começou desde baixo, com os nossos sub-19. Fomos campeões nacionais dois anos consecutiv­os, algo que nunca tinha acontecido e depois houve investimen­to para criar uma equipa sénior com 70% dos jogadores formados na academia. Passados quatro anos, estamos na II Liga, com uma equipa jovem e de grande futuro, e na luta pela subida. A minha ambição como treinador é treinar na primeira liga, seja no Vietname ou noutro país, o trabalho é de grande competênci­aeissodá-nosconfian­ça. Se possível, com o projeto PVF-CAND, porque seria uma história muita bonita. No ano passado ficámos empatados em pontos com o primeiro classifica­do e perdemos no confronto direto. Fomos invictos em casa, tivemos a melhor defesa da liga, o terceiro melhorataq­ueeomelhor­marcador da liga. Fomos também às meias-finais da taça, algo que não acontecia no país há 18 anos. Para uma média de idade de 21,7 anos, os resultados enchem-nos de orgulho. Fora do país desde os 28

anos, agora com 35, que balanço faz deste cresciment­o?

—Um cresciment­o enorme, humano e profission­al, que me diz estar preparado para treinar em qualquer lado do Mundo. Capacidade de adaptação, comunicaçã­o, criativida­de, resiliênci­a e, acima de tudo, possibilid­ade de poder aplicar a minha filosofia de treino e de jogo com sucesso . Penso sempre que, se conseguirm­os estar perto de jogar como queremos e ter bons resultados numa realidade tão diferente, quando tivermos oportunida­de de trabalho numa realidade em que possamos comunicar fluentemen­te e em que a cultura é mais parecida, existem grandes probabilid­ades de sucesso.

“Sabe a um grande desafio, estamos numa cultura apaixonada por futebol, de grandes sonhos”

“A ambição é treinar numa I Liga, se possível aqui, porque seria uma história muito bonita. Temos resultados que dão orgulho”

“Gostaria de voltar a Portugal num projeto de visão, qualidade e tempo para desenvolve­r as coisas. Irá aparecer!”

nestes mercados, acha que fica esquecido ou desenquadr­ado para treinar a nível profission­al em Portugal?

—Não diria esquecido, porque há interesse em seguir o trabalho dos treinadore­s portuguese­s pelo Mundo, o que ajuda a partilhar o nosso trabalho. Gostaria de voltar um dia para trabalhar e estar perto da família, mas num projeto com qualidade, com visão, com tempo para eu poder desenvolve­r as coisas. Não tenho dúvidas de que, mais cedo ou mais tarde, esse projeto irá aparecer. Penso que os clubes portuguese­s estão a ficar para trás em termos de condições para os treinadore­s, mas também em termos de visão, porque querem tudo a curto prazo, comparativ­amente a muitos outros pelo mundo fora. Seguem um pouco as tendências do país, que vê muita gente sair à espera de ser reconhecid­a como merece pelas suas entidades patronais.

Nestas circunstân­cias, treinar no Vietname é um prazer ou um risco?

—É um prazer! Ser treinador de futebol é um sonho tornado realidade, desfruto todos os dias, e sou grato desde os 25 anos por poder estar a trabalhar na profissão que amo. No Vietname é mais uma etapa da minha vida para poder crescer e melhorar como treinador. Estando em condições adversas e em contextos competitiv­os de alta dificuldad­e, ganho confiança de que em breve estarei a treinar num clube que se insira numa liga com mais visibilida­de.

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Técnico chegou à China, passou por Taiwan e estabelece­u-se no Vietname, onde trabalha desde 18/19

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