O Jogo

UM VULCÃO CONGELADO PELAS CHAMAS

REVIRAVOLT­A Entrada forte dos dragões na segunda metade resolveu um problema sério, que se agudizou no reatamento de um desafio jogado em tês partes

- Textos VÍTOR SANTOS

O FC Porto marcou duelo com o Vitória de Guimarães nas meias-finais da Taça de Portugal, ao bater o Santa Clara, com golos de Evanilson e Galeno, após os açorianos se terem colocado em vantagem.

Vinte e dois dias depois, chamados a concluir uma partida que nunca devia ter começado, Santa Clara e FC Porto conseguira­m, em 63 minutos, mais compensaçõ­es, oferecer um espetáculo daqueles que não permitem tirar os olhos do relvado. Em tão pouco tempo, tanta incerteza, num filme que abriu com um foco de tensão – leia-se, golo açoriano –, como convém em todas as boas narrativas. Na ilha do vulcão, o dragão precisou de fogo saído da alma para congelar uma formação da II Liga que se bateu sempre com fé e coragem. Em boa verdade, os encarnados de Ponta Delgada só sossegaram depois de Cláudio Pereira dar a terceira parte do encontro (sim, estão a ler bem) por terminada, embora na ponta final o FC Porto tenha transmitid­o sensações bem mais tranquilas aos adeptos, que começaram a tarde em sobressalt­o, obra e mérito daquela reentrada em jogo do Santa Clara. Se foi estudada, saiu melhor do que a encomenda, porque ninguém conseguiri­a prever um ressalto e um erro pouco habitual de Diogo Costa, que “assistiu” Rafael Martins para um golo simples.

O que se seguiu foi um FC Porto descoorden­ado, mas a tentar invadir a área do Santa Clara por todos os pontos possíveis e imaginados, quase sempre, por Francisco Conceição. Em desvantage­m, Sérgio Conceição não perdeu tempo e colocou a equipa a jogar com apenas três defesas, desviando João Mário para o flanco esquerdo. Os cantos sucederams­e, e mesmo com tanto vento – obstáculo persistent­e e chato para as duas equipas –, estava montado o assalto à área açoriana,ondeoposte­eoguarda-redes Marcos Díaz também foram muito úteis, mas o intervalo chegou sem mexidas no marcador e incerteza máxima, porque numa ou outra ameaça também o Santa Clara mostrava ter a baliza do adversário bem presente.

O terceiro ato do espetáculo foi determinan­te. Há 22 dias, quando a partida foi interrompi­da, o resultado era 0-0, a “segunda parte” fechava, ontem, com os açorianos na frente e a terceira foi de festa e alívio para os dragões. Mas não foi obra do acaso. Conceição lançou Namaso e deixou João Mário no banho, mantendo os três defesas e abrindo a frente de ataque. O impacto foi imediato, porque o jovem portista ofereceu um golo fácil a Galeno, que falhou com o mesmo estrondo com que haveria de, adiante, sentenciar o encontro, num disparo furioso e implacável que furou a defesa do Santa Clara. Só não terá feito o mesmo às redes porque, em terra de pescadores, há razões para acreditar que são mais fortes do que noutro sítio qualquer. Antes da sentença de Galeno, Evanilson fizera o empate, servido pelo grande agitador portista, Francisco Conceição, e abençoado por um ressalto num defesa contrário que traiu o guarda-redes.

A resposta não tardou. O que se viu, até ao fim, foi o Santa Clara a tentar, a estar muito perto do empate, mas também o FC Porto a ameaçar o terceiro. Se foram obrigados a meter todo o fogo na frente para resolver o desafio, os dragões também se uniram para conservar a vantagem e a superiorid­ade moral de sair por cima num desafio que começou torto e que se endireitou, na perspetiva de quem tem já ao virar da esquina um clássico com o Benfica.

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Francisco Conceição foi um quebra-cabeças
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