UM VULCÃO CONGELADO PELAS CHAMAS
REVIRAVOLTA Entrada forte dos dragões na segunda metade resolveu um problema sério, que se agudizou no reatamento de um desafio jogado em tês partes
O FC Porto marcou duelo com o Vitória de Guimarães nas meias-finais da Taça de Portugal, ao bater o Santa Clara, com golos de Evanilson e Galeno, após os açorianos se terem colocado em vantagem.
Vinte e dois dias depois, chamados a concluir uma partida que nunca devia ter começado, Santa Clara e FC Porto conseguiram, em 63 minutos, mais compensações, oferecer um espetáculo daqueles que não permitem tirar os olhos do relvado. Em tão pouco tempo, tanta incerteza, num filme que abriu com um foco de tensão – leia-se, golo açoriano –, como convém em todas as boas narrativas. Na ilha do vulcão, o dragão precisou de fogo saído da alma para congelar uma formação da II Liga que se bateu sempre com fé e coragem. Em boa verdade, os encarnados de Ponta Delgada só sossegaram depois de Cláudio Pereira dar a terceira parte do encontro (sim, estão a ler bem) por terminada, embora na ponta final o FC Porto tenha transmitido sensações bem mais tranquilas aos adeptos, que começaram a tarde em sobressalto, obra e mérito daquela reentrada em jogo do Santa Clara. Se foi estudada, saiu melhor do que a encomenda, porque ninguém conseguiria prever um ressalto e um erro pouco habitual de Diogo Costa, que “assistiu” Rafael Martins para um golo simples.
O que se seguiu foi um FC Porto descoordenado, mas a tentar invadir a área do Santa Clara por todos os pontos possíveis e imaginados, quase sempre, por Francisco Conceição. Em desvantagem, Sérgio Conceição não perdeu tempo e colocou a equipa a jogar com apenas três defesas, desviando João Mário para o flanco esquerdo. Os cantos sucederamse, e mesmo com tanto vento – obstáculo persistente e chato para as duas equipas –, estava montado o assalto à área açoriana,ondeoposteeoguarda-redes Marcos Díaz também foram muito úteis, mas o intervalo chegou sem mexidas no marcador e incerteza máxima, porque numa ou outra ameaça também o Santa Clara mostrava ter a baliza do adversário bem presente.
O terceiro ato do espetáculo foi determinante. Há 22 dias, quando a partida foi interrompida, o resultado era 0-0, a “segunda parte” fechava, ontem, com os açorianos na frente e a terceira foi de festa e alívio para os dragões. Mas não foi obra do acaso. Conceição lançou Namaso e deixou João Mário no banho, mantendo os três defesas e abrindo a frente de ataque. O impacto foi imediato, porque o jovem portista ofereceu um golo fácil a Galeno, que falhou com o mesmo estrondo com que haveria de, adiante, sentenciar o encontro, num disparo furioso e implacável que furou a defesa do Santa Clara. Só não terá feito o mesmo às redes porque, em terra de pescadores, há razões para acreditar que são mais fortes do que noutro sítio qualquer. Antes da sentença de Galeno, Evanilson fizera o empate, servido pelo grande agitador portista, Francisco Conceição, e abençoado por um ressalto num defesa contrário que traiu o guarda-redes.
A resposta não tardou. O que se viu, até ao fim, foi o Santa Clara a tentar, a estar muito perto do empate, mas também o FC Porto a ameaçar o terceiro. Se foram obrigados a meter todo o fogo na frente para resolver o desafio, os dragões também se uniram para conservar a vantagem e a superioridade moral de sair por cima num desafio que começou torto e que se endireitou, na perspetiva de quem tem já ao virar da esquina um clássico com o Benfica.