CRUEZA “Não houve dúvida do que fazer ali”
Parrado refuta qualquer debate interno no meio dos Andes; lamenta que muitos falem sem se posicionarem no contexto
Fernando Parrado aborda tema que suscitou sempre mais falatório público, pela história de sobrevivência ter implicado comer carne humana, durante 72 dias, sem visão de escape e a 25 graus negativos.
Sabendo-se que o instinto de sobrevivência levou a que comessem carne humana durante o calvário de 72 dias, mergulhados num cenário dantesco, Fernando Parrado não aceita mil e uma dissertações sobre o passo dado por cada passageiro e pela visão da morte que o atormentava. Todos,sem exceção,s ocorreram se dos adereços possíveis para fazerem camas e se acautelarem do gelo, mas também dos corpos de quem tinha morrido e ficado nos destroços na cordilheira para se manterem alimentados, ligados a uma ténue esperança. Um debate público reprovado por Parrado, corrigindo qualquer prática de canibalismo pela antropofagia. “Todas essas perguntas resultam de quem vê tudo isto de fora. No meu caso particular e falando por todos os que sobreviveram, nunca houve dúvidas do que fazer ali! Pode ser uma discussão interessante em qualquer sala, mas eu sei, tenho a certeza, que qualquer um que ler esta entrevista, se estivesse naquele lugar, naquele exato momento, abandonado à morte mais lenta, fria e horrível que se possa imaginar, teria feito exatamente o mesmo que nós fizemos. Ninguém se pode outorgar de expert neste tema, apenas o somos nós, fomos consultados por médicos, psicólogos e universidades variadas. Ninguém pôde discutir o que fizemos. Talvez o tenham feito algumas pessoas em conversas privadas entre elas, mas essas nunca imaginaram o que era sobreviver ali. Nunca liguei a esses comentários ”, vincou Fernando, afastando qualquer convívio mais agu diz ante com o que ficou para trás, um capítulo que ninguém poderia supor vivenciar. “Cada um teve a sua própria história. Eu sempre fui pragmático, posso dizer que nunca fui abalado por tantas recordações e tormentos e coisas mais negativas. Agradeço, mais do que tudo, a possibilidade de estar vivo e quando saí desse inferno apenas pensei em não destruir a segunda parte de uma única vida. O que aconteceu é imodificável”, atestou, puxando pela fita que rodou... seguidamente. “As imagens nunca me atormentaram desde que saídos Andes, dormis em sonhosnem pesadelos. Trabalhei muito numa empresa familiar e noutras que criei. As conferências nunca foram parte importante. O desporto, sim, sempre foi imprescindível. Dediquei-me dez anos ao râguebi, dois deles depois do acidente, e seguiu-se a paixão pelo desporto motorizado, correndo em motos e carros. Também fizracquetballe ténis. A normalidade encontrei-a muito antes do esperado, pois oito meses após o resgate, jogava râguebi na primeira divisão.”
“Agradeço estar vivo e quando saí desse inferno apenas pensei em não destruir a segunda parte de uma única vida. Oresto é imodificável”
Fernando Parrado
Sobrevivente