Volta depressa, Antonio Adán
Adán era até ontem pouco consensual no universo leonino, que reclamava a contratação de um guarda-redes. Pelos piores motivos, de um dia para o outro, passou a desejado.
Opaís estava ainda semicerrado pela covid19 e sem motivos para grandes festas, porque ninguém se diverte eternamente a transformar tachos e panelas em instrumentos musicais de concertos de bairro, mas milhões tinham razão para fazer mira às estrelas com garrafas de espumante. No dia 11 de maio de 2021, 19 anos depois, o Sporting sagrava-se campeão nacional, com as concentrações de adeptos proibidas. Como nem à luz do decreto-lei é possível congelar o calor humano do futebol, da festa ao surto foram dez dias e três vivas a Antonio Adán, herói-leão na defesa das redes do campeão nacional. Entre outros, claro.
A primeira época de Adán nesse Sporting acordado por Rúben Amorim fica na história. O espanhol foi decisivo para devolver o título a Alvalade. De então para cá, o índice de aprovação junto da comunidade leonina assemelha-se a um eletrocardiograma de um coração apaixonado, com os altos e altos e baixos e baixos do amor. Adán lesionou-se ontem. Tem a temporada em risco. Sobram Franco Israel e outros jovens. Oxalá que o maior receio de um profissional de futebol, a lesão grave, não se confirme. Que os exames esclareçam que o guarda-redes vai mesmo completar os jogos que lhe permitem automaticamente renovar contrato com o Sporting. Porque ninguém merece. De repente, na ressaca da euforia de uma vitória sobre o rival, há sobressalto em Alvalade, porque Adán volta ser importante. Como tantas vezes nos acontece na vida, a privação, neste caso, a ameaça que paira, faz-nos perceber que os mais importantes podem ser aqueles que considerávamos dispensáveis. Volta depressa, Adán.*