O Jogo

Schmidt pisa o risco com a arbitragem

- Jorge Maia

Roger Schmidt tem uma relação complicada com as críticas. Quer dizer, no fundo não é assim tão complicada e pode resumir-se a uma questão de perspetiva. As críticas que ele faz aos outros, desde logo aos árbitros, são justas e merecidas. As críticas que lhe fazem a ele, desde logo os adeptos do Benfica, são injustas e descabidas. Tanto assim que, se for para o criticarem, mais vale ficarem em casa. Ora, ninguém, nem os árbitros nem os treinadore­s estão acima das críticas. Ambos erram e podem muito bem ser alvo de reparos, desde que não se ultrapasse­m determinad­os limites. Ontem, Roger Schmidt ultrapasso­u-os a todos quando disse que Fábio Veríssimo quis dar um penálti ao Sporting. Uma coisa é considerar que um árbitro errou, como o alemão alega em relação ao golo anulado a Di María, apesar da generalida­de de opiniões contrárias dos diversos especialis­tas em arbitragem. Outra é dizer que quis errar, no lance da grande penalidade sobre Edwards revertida pela intervençã­o do VAR, atribuindo-lhe a intenção consciente e objetiva de prejudicar o Benfica. No limite, uma coisa é dizer que um árbitro foi infeliz ou até incompeten­te na análise de um lance, outra é dizer que foi intrinseca­mente desonesto, lesando de forma clara a sua honra e reputação. Não é por acaso que os regulament­os disciplina­res preveem castigos pesados para casos destes. Claro que há um contexto que explica este ataque, digamos assim, destempera­do de Roger Schmidt. Por um lado, o alemão acabou de perder pela primeira vez esta época um duelo frente a um dos rivais históricos, por sinal também o primeiro em que o rival conseguiu chegar ao final do jogo com 11 elementos em campo e, nem de propósito, o primeiro em que a arbitragem foi tema para o alemão. Por outro, há uma deslocação ao Dragão já a seguir e é impossível não ouvir nas entrelinha­s das palavras do treinador encarnado um recado para a equipa de arbitragem escolhida. Seja como for, o que fica cristalino, para lá da frustração em relação à expectativ­a de que o alemão vinha para o futebol português elevar o nível da discussão, é que Schmidt, mesmo com dois pontos de vantagem no

Uma coisa é dizer que um árbitro foi infeliz ou até incompeten­te na análise de um lance, outra é dizer que foi desonesto

campeonato, ainda com hipóteses de discutir à passagem à final da Taça de Portugal e com uma palavra a dizer na Liga Europa, se sente pressionad­o a apresentar um futebol mais articulado depois do investimen­to milionário que o Benfica fez para o armar até aos dentes. Lá está, essa é a tática que deveria preocupar o alemão. Esta, de apontar aos árbitros, está estafada.

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