O Jogo

Um bálsamo sobre uma ferida

- Álvaro Magalhães O autor optou por escrever na ortografia antiga

Hoje é dia de PortoBenfi­ca, um dia diferente dos outros: cheira a isso, sabe a isso, não tem mais nada dentro a não ser isso. Claro que estou a exagerar, mas não muito. Não interessa qual é a competição, ou a classifica­ção das equipas, um Porto-Benfica é sempre um programa completo.

O problema, para os portistas, é que o orgulho da tribo está ao nível das prestações medíocres da equipa, que está a um empate de igualar o pior registo da era de Sérgio Conceição, em 2020/21, na época da covid19, quando perdeu 22 pontos nas 34 jornadas. Logo, vem aí uma época muito abaixo da tradição do clube. É quase certo que a equipa com o ADN Champions não irá à Champions na próxima época. O castigo, se ficar em terceiro, será fazer três eliminatór­ias na pré-época para aceder à fase de grupos da Liga Europa. E acaba de dizer Pinto da Costa que “optaram por salvaguard­ar a competitiv­idade desportiva”. Olha se tinham optado por outra coisa!

Desde que chegou ao clube, há sete anos, Sérgio Conceição foi capaz de mascarar a crescente fragilidad­e do plantel, fruto da crise financeira e da inépcia directiva. Mas não está a conseguir replicar milagres recentes. Percebe-se que está exausto e impotente, vivendo um penoso final de

contrato, como, de resto, dão a entender os “posts” enigmático­s que publica no Instagram.

A excepção à mediocrida­de competitiv­a da equipa, também ela enigmática, está nas irrepreens­íveis prestações na Champions, algumas delas brilhantes, como a do jogo com o Arsenal. Com os grandes, a equipa transcende-se e ganha, com os pequenos desleixa-se e acaba por ser abatida. Pior ainda:

perdem-se os jogos e perdem-se as lições. A apatia total da primeira parte no jogo com o Gil Vicente é a prova disso.

Como a equipa tem oscilado entre a enfadonha rotina da vida doméstica, onde joga de pantufas, como disse Sérgio Conceição, e a exaltação da vida extraordin­ária da Champions, onde joga com pitões de alumínio, não se sabe qual delas estará hoje em campo. A das pantufas perde, naturalmen­te, pela terceira vez com o Benfica na mesma época, o que chega e sobra para enegrecer o coração da tribo. A outra ganha, também naturalmen­te, exceto se João Pinheiro e Tiago Martins, árbitro e VAR, também quiserem “jogar”. Pinheiro, com o stress e o medo de errar, apita sempre que um jogador geme ou cai, e eles estão sempre nisso. Também saca do cartão amarelo a torto e a direito, acabando por chegar

depressa a uma expulsão que define o resultado. Conceição disse que espera acabar com onze, mas essa é a parte mais difícil. Basta pensar nos últimos clássicos. Por sua vez, Tiago Martins tem dois olhos. Como toda a gente? Não. Ele tem um olho que vê tudo e outro que faz de conta que não vê - e usa um ou outro, dependendo da situação. Não admira que eles sejam sempre os homens de quem (mais) se fala depois de um jogo destes.

Seja como for, o manjar gourmet que os portistas mais apreciam (ganhar ao Benfica) aí está, à disposição. E para que serve? Serve para ganhar ao Benfica. E é um bálsamo sobre a ferida aberta que está a ser esta época.

A equipa tem oscilado entre a enfadonha rotina da vida doméstica, onde joga de pantufas, e a exaltação da vida extraordin­ária da Champions, onde joga com pitões de alumínio

Aos domingos - Este espaço é ocupado, alternadam­ente, por Carlos Tê e Álvaro Magalhães

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Sérgio Conceição tem conseguido mascarar debilidade­s do plantel
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Visto do Sofá

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