A sorte de Amorim, o azar de Schmidt
O treinador do Sporting disse ter tido sorte por lhe terem permitido falhar em toda a linha. A questão é que os leões não tinham investido mais de 100 milhões de euros para o armarem até aos dentes.
Rúben Amorim tem razão quando diz que teve a sorte de treinar um clube que lhe permitiu falhar em toda a linha. Poucos treinadores merecem a mesma condescendência das respetivas direções e, até, dos adeptos. Claro que houve atenuantes que jogaram a favor de Rúben Amorim na última época, para lá do estado de graça prolongado que a conquista do título em 2020/21 lhe garantiu. A venda de Matheus Nunes na véspera de um clássico com o FC Porto no Dragão ou a saída de Pedro Porro no mercado de inverno, por exemplo, atenuaram significativamente a responsabilidade do treinador numa época que se traduziu em zero títulos e num frustrante quarto lugar no campeonato. Até por isso, é apenas natural que a cobrança seja diferente no caso de Roger Schmidt. Sim, o alemão também perdeu Grimaldo e Gonçalo Ramos, mas Rui Costa tratou de armá-lo até aos dentes com reforços milionários. No verão chegaram Kokçu, Arthur Cabral, Di María, Trubin, Jurásek e Bernat num investimento de quase 70 milhões de euros. E como as coisas não estavam a correr bem, em janeiro os encarnados ainda foram buscar Marcos Leonardo, Carreras, Rollheiser e oficializaram a contratação de Prestianni, acrescentando mais 40 milhões de euros ao esforço para garantir que Schmidt não falhava a revalidação do título e que a SAD não tinha de assumir que a renovação com o alemão foi precipitada. Portanto, onde Amorim tinha atenuantes, Schmidt só tem agravantes. Se o alemão falhar em toda a linha, e é muito cedo para dizer que já falhou, dificilmente terá a sorte do treinador leonino.