O Jogo

A minha conversa com Pietra

- Jogo final Vítor Santos vitor.santos@ojogo.pt

Lateral-direito veloz e talentoso, Pietra, figura do Benfica nos anos 1980, foi um craque sem manias, campeão muito amado na Luz, como jogador e treinador-adjunto.

Adolescent­e habituado a olhar para os jogadores de futebol como estrelas intangívei­s, longe de imaginar que haveria de testemunha­r o contrário como jornalista – há de tudo, como em tudo na vida –, não esquecerei a conversa que mantive com Minervino Pietra, do relvado do Estádio do Mar ao cimo da rampa onde estacionav­am os autocarros das equipas. Respondeu-me a todas as perguntas com respeito, depois de um jogo difícil – uma vitória à justa sobre o Salgueiros – e num período delicado de uma boa equipa do Benfica, onde pontificav­am Manuel Bento, Álvaro Magalhães, Carlos Manuel, Diamantino e um técnico controvers­o, Pal Csernai. Tentei vários jogadores, só aquele lateraldir­eito veloz de cabelo farto teve paciência para aturar o miúdo atrevidote. Quando o futebolist­a talentoso e respeitado encerrou a carreira, continuou o percurso na Luz como treinador, campeão adjunto, mantendo os traços que testemunhe­i naquela tarde quente de 1985. Vinte anos depois, tive a sorte de ser companheir­o de trabalho do seu filho, o Hugo, dono da mesma cordialida­de desarmante. Pietra foi um dos grandes, que não necessitou de adereços para sair da sombra. Suspeito que, se na década de 1980 houvesse redes sociais, não teria sido muito ativo. Nem necessitar­ia. Conquistou os adeptos porque soube ser elemento importante no balneário do Benfica, antes e depois de abandonar os relvados, um exemplo de entrega, qualidade e educação, até por tratar os que pagam para ver futebol com o respeito que merecem. Partiu, aos 70 anos, um grande campeão. O Benfica soube homenageá-lo em vida, como se impunha.*

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