BERGKAMP? DE LEVAR AOS OMBROS
Viagem a anos de sonho do Arsenal com um “menino bonito” do clube, indomável no talento e nos vícios
Merson apanhou longa era de Graham em Highbury, testemunhou a transição para Wenger por uma época, perdendo a carruagem para anos de ouro do francês. Mas a sua estrela brilhara a partir de 88/89.
Com 327 jogos pelo Arsenal, 78 golos, Paul Merson foi um dos maiores talentos que emergiu nos gunners, acompanhando a era de George Graham, onde se consagrou duas vezes campeão inglês. De técnica refinada, mestre no último passe e na finalização, apareceu logo como estrela em 1988/89, votado como jogador jovem do ano em Inglaterra. Atuou com Ian Wright e Kevin Campell, mais tarde ainda com Bergkamp.Comentadormuito solto, e com uma reviravolta incrível nas suas confissões de adições, Merson é hoje acutilante nas palavras. Fomos em busca das suas memórias de tempos divinos.
“Fiz 11 anos num clube incrível, lutando por troféus e vencendo alguns. Sendo honesto, podíamos ter ganho mais, faltou uma Liga dos Campeões, o Liverpool ganhou a prova num ano em que fez menos 25 pontos do que o Arsenal no campeonato. Mas fico feliz com dois títulos e uma Taça das Taças e, sobretudo, por ter feito parte de um grupo fenomenal”, destaca.
Merson recorda o seu arranque nos londrinos, pontuado por conquistas muito depressa. “Éramos um grupo de muito trabalho com Graham. Não éramos os melhores do mundo, não éramos fantásticos, mas competíamos com qualquer um, pois havia grande sentido de equipa e fomos bem sucedidos”, revela, venerando os que lhe deram mais gozo como colegas. “Primeiro o Alan Smith, era um craque. Mas fui um sortudo por jogar com grandes figuras. Se marquei 16 golos na época do título (91/92) é porque estava rodeado dos melhores. Mas depois joguei com Bergkamp e foi algo inacreditável. Era de o levar aos ombros, vendo o que ele fazia. Como treinava! Eu, naquela altura, não acreditava que um jogador pudesse ser tão bom!”, exulta sobre o genial neerlandês, analisando o que foi o Arsenal de Graham e o de Wenger, do qual foi dispensado, após uma época. “George era um homem tático, muito conhecedor do futebol britânico. Quando chega Wenger foi algo assustador, era muito à frente do nosso tempo. E ainda vieram Vieira, Petit, Overmars, Ljungberg, Lauren. Ele fez uma equipa fabulosa e não posso olhar para trás. As coisas foram como foram, deram-se mudanças e eu vivi também grandes anos no Middlesbrough, Aston Villa e Portsmouth. O Arsenal fez-me, devo-lhe tudo e percebi que tinham encontrado o caminho certo. Trouxeram jogadores lendários, estiveram 49 jogos sem perder. Nunca mais haverá na Premier League uma equipa a fazer uma época invicta ou acabar com 100 pontos. Foi algo único e louco”, exalta.
A única vez que defrontou um rival português, o Benfica, na Taça dos Campeões, de 91/92, Kulkov e Isaías (2) promoveram noite épica em Londres (1-3). “Fizemos um grande jogo em Lisboa e deu um 1-1. Mas eles também fizeram um grande jogo cá e nós estivemos mal no prolongamento. Era um bom Benfica e mereceu passar.”
PAUL MERSON
“Estive 11 anos num clube incrível, ganhei títulos e mais se podia ter ganho. Deu ainda para a Taça das Taças”
“Quando chega Wenger foi algo assustador, era muito à frente do nosso tempo”