O “reset” impossível
1Não conheço um só benfiquista que não concorde com o desabafo que Otamendi proferiu no final do empate caseiro com o Rangers: “Temos que sair desta situação de merda.”
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No Dragão, o Benfica bateu no fundo – e escrevo “bateu no fundo” porque não me passa pela cabeça que possa haver um fundo ainda mais fundo. O problema é que já vai tarde na época para fazer um “reset” e recomeçar tudo do zero. Todavia, com a qualidade de que dispõe – diz-se à boca cheia que temos o melhor plantel –, exige-se de Schmidt que atine de vez com a tática e com o onze, e consiga motivar e galvanizar os jogadores. É que a Liga está complicada mas não está perdida, o Rangers mostrou na Luz que é ultrapassável e a difícil meiafinal da Taça decide-se em casa.
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Por culpa de expectativas desnecessariamente alimentadas, muitos benfiquistas esperavam que 2023-24 fosse um passeio. De modo que, mesmo com a equipa na luta em três frentes, não para de crescer a contestação e a intolerância para com o treinador. Problema que a comunicação do clube, por incompreensível estratégia ou inaceitável incompetência, não soube a seu tempo estancar ou, ao menos, atenuar. Na era da comunicação, raramente o silêncio é de ouro – e o resultado está à vista: muito dificilmente Schmidt reunirá condições para continuar depois de maio, mesmo que venha a dar três olímpicas voltas ao Marquês – uma por cada competição que aos dias de hoje pode ainda vencer. 4
À medida que o deflagrar de tochas e o arremesso de objetos se sucedem, o Benfica vai acumulando multas e castigos da UEFA. De caminho, apela – apela… – aos seus adeptos para que “cumpram os regulamentos e se abstenham de práticas que prejudicam a imagem do clube”. Pergunta-se: vai ser preciso que uma desgraça aconteça, manchando irremediável e definitivamente o nome do clube, para que se erradique de vez o problema? Como garante esta gente o acesso a bilhetes que sócios com dezenas de anos de militância, de cativo e de assiduidade aos jogos não conseguem garantir?
5Após o lisonjeiro empate com a Atalanta, Rúben Amorim justificou-se com a falta de energia da equipa, que “já se tinha sentido contra o Farense”. Bisbilhoteiro, fui pesquisar, e eis o resultado: na soma dos minutos de utilização esta
Vai ser preciso que uma desgraça aconteça, manchando irremediável e definitivamente o nome do clube?
época dos onze escalados por Amorim e Schmidt para os jogos europeus desta semana, o Sporting apresenta um total de 20 613 minutos e o Benfica 28 923. Dá para perceber a importância da comunicação?
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Mesmo beneficiando de uma piedosa amnistia papal, Rui Pinto, já condenado em tribunal num outro processo, vai desta vez ser julgado pela bagatela de 242 crimes de acesso ilegítimo qualificado, violação de correspondência agravada e dano informático. O dia em que a história será na sua totalidade contada inevitavelmente chegará, e os beneficiários de tamanhas patifarias não mais continuarão a assobiar para o lado.
PS - Eras e serás sempre um dos grandes, Carlos Pereira Santos. Até um dia!