“Boavista está pior do que há três anos”
José Pedro Pais fala da partida inevitável de Vítor Murta, admitindo um quadro inquietante, acusando o presidente demissionário de ter cavado um cenário pior do que existia há três anos.
PEDRO CADIMA
José Pedro Pais é um sócio ●●● desafiado pelos adeptos para assumir uma voz importante no futuro do clube e deixa a sua análise do contexto delicado da pantera em vários dossiês que beliscam a credibilidade e por uma recente demissão de Vítor Murta com alguns ventos de incerteza. Uma assembleia-geral de acionistas, aprazada para amanhã, pode trazer novidades.
Que reflexão faz um sócio tão interessado no clube e, de certo modo, conhecedor de dossiês internos do que fica da liderança de Vítor Murta e da contestação que subiu de tom claramente esta época?
—A grande contestação dos adeptos - que não é de agora - é mais do que natural, uma vez que Vítor Murta deixará, infelizmente, um legado bastante negativo no clube, pautado pelo aumento exponencial do passivo, pelas três janelas consecutivas sem conseguir inscrever novos jogadores - e que continua sem solução à vista -, pelos inúmeros condicionamentos ao trabalho diário do plantel e do clube, e pelos múltiplos embaraços que enlamearam o nome do Boavista.
Olha para o pedido de demissão de Vítor Murta como algo inevitável?
—Considero precisamente isso: era inevitável e só peca por tardio. Esta demissão já deveria ter acontecido, no mínimo, há vários meses, mas o próprio assim não o entendeu e o tempo acabou por ditar este desfecho inevitável.
Olhando a muitos sócios que iam pedindo que ele saísse, que abandonasse por falta de condições, o quadro atual é animador ou muito dúbio?
—Independentemente da sua saída, o quadro atual é, com franqueza, bastante inquietante, e isso deve-se principalmente à sua própria responsabilidade. No entanto, o Boavista sempre teve, ao longo da sua história, a capacidade de se reinventar e de converter as suas fraquezas em forças. RecuperaresteBoavistaserá,provavelmente, o maior desafio da história deste clube centenário.
“O quadro atual do Boavista é inquietante e deve-se à própria responsabilidade de Vítor Murta”
Que balanço lhe apraz registar da política desportiva e financeira de Vítor Murta e do investidor Gérard Lopez e de que forma partilham responsabilidades pelo sucedido?
“O clube viveu acima das suas capacidades e da sua organização. Tem um dos maiores orçamentos da I Liga”
—O balanço é francamente negativo em ambas as componentes. O Boavista viveu, durante este triénio, claramente acima das suas capacidades e da sua organização. Ao contrário do que foi dito, e pelos nú
“O acionista maioritário foi chamado a intervir num panorama negativo e terá de decidir se assume gestão da SAD”
“Lopez terá de decidir se assume a gestão da SAD e do projeto ou se pretende desfazer-se do investimento, abrindo portas a uma venda”
“O balanço da política desportiva e financeira tanto de Vítor Murta como de Gérard Lopez é francamente negativo”
meros que, entretanto, acabaram por vir a público, o Boavista tem um dos maiores orçamentos da I Liga. No entanto, este orçamento não teve qualquer cabimento nas receitas ordinárias da SAD e não produziu qualquer retorno desportivo ou financeiro. No final, o Boavista não só não diminuiu o passivo, como o aumentou significativamente às custas do esforço do acionista maioritário, mas, pese embora esse facto, não se organizou e, mais do que isso, nunca foi capaz de desenvolver um projeto desportivo e financeiro competente, encontrando-se atualmente numa situação significativamente pior do que estava há três anos.
Que melhor solução interna defende que salvaguarde interesses imediatos do clube, da esfera desportiva a interesses mais globais?
—Neste momento, o acionista maioritário é chamado a intervir. Perante este panorama extremamente negativo, e tendo ele interesse em proteger o seu investimento, terá de definitivamente decidir se assume a gestão da SAD e do projeto, colocando uma equipa da sua confiança no CA, ou se pretende desfazer-se deste investimento, abrindo portas a uma possível venda a breve prazo. Seja qual for o cenário elegido, o clube terá sempre uma palavra a dizer e deverá ser claro quanto à sua posição.