Do contra-ataque selvagem ao jogo tático
1Da Escócia a Itália, um fosso de conceitos táticos. Os confrontos de Benfica e Sporting na Liga Europa, contra adversários geneticamente diferentes (na cabeça e nas botas), mostraram como tudo pode ser distinto no jogo quanto mais o pensamento estiver (ou não) acima de apenas correr mais. Em Glasgow, o Benfica recusou controlar o jogo em posse e procurou o contra-ataque o jogo todo por estratégia. Assumiu, assim, jogar um... jogo partido com bola, buscando ataques rápidos frente a um onze escocês que encontra nesse estilo de vertigem o território ideal para jogar o seu jogo e disfarçar até as suas lacunas técnico-táticas em posse. Retirando um médio da sua estrutura e entregando o meiocampo a Florentino (trinco equilibrador) e a João Neves (pedindo-lhe desdobramentos sucessivos de marcação e saída), lançou quatro avançados que esperavam essas bolas que podiam surgir a lançar o ataque no espaço que o tal jogo partido iria, naturalmente, proporcionar.
Não existia meio-campo no sentido de segurar bola e jogo, só de busca de transição rápida. A entrada de Tengstedt ao inter-* valo visava segurar a bola na frente (e fazer ataque organizado à medida dos seus avançados tecnicistas, Rafa-Neres-Di María) mas os escoceses não paravam de correr.
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Até que, aos poucos, após o meio da segunda parte, aconteceu o que parecia improvável: a quebra física a pique do Rangers. Sem essa dimensão atlética para meter no jogo, o onze escocês desapareceu do campo em termos competitivos. O lance do golo aparece quando essa inversão de tendência física se começava a notar. Uma bola perdida na frente (e com a equipa toda subida) e Rafa encontrou um latifúndio de meio campo para correr isolado para a baliza. Nesse lance, já só existia a sua velocidade acima de todo o jogo e de ambas as equipas.
A partir daí, nos 25 minutos que faltavam, o Benfica só tinha de não cometer erros atrás. Não cometeu. Foi seguro e ganhou, com os escoceses de meias em baixo, ofegantes e a arrastar a língua pela relva.
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O jogo de espelhos dos dois sistemas, ambos com defesa a “3” (desenhando-se em posse em 3x4x1x2x1) podia supor um “encaixe” perfeito, mas basta um deles jogar mais subido (o da Atalanta, por natureza) e outro mais médio-baixo (o do Sporting, por estratégia) para esse “desencaixe” surgir. Nestes casos, o contra-ataque pode, naturalmente, surgir para a dita equipa mais de estratégia. O Sporting encontrou-o de início mas a forma como, na segunda parte, o bloco da Atalanta reagiu e juntou linhas (ficando mais compacto na mesma postura subida) controlaria esse risco de exposição na profundidade atrás. Uma dimensão tática superior que não fez a equipa correr mais mas sim correr mais junta (atrás e à frente).