O Jogo

O meio-campo móvel e o ataque que se mexe

- Luís Freitas Lobo luisflobo@planetadof­utebol.com

1É, em rigor, só uma ilusão que uma posição (a do nº9 ponta-de-lança) provoca, quando, em vez de jogar como é habitual fazer (mais à espera da bola que lhe chega), opta por um comportame­nto diferente (mais à procura da bola ou a fugir com ela).

É o suficiente para se dizer que, desta forma, a equipa joga num “ataque móvel”. Tem sucedido, esta época, quando Schmidt opta por colocar Rafa, extremo ou avançado solto por natureza, nessa posição no sistema. É, porém, um erro e uma definição redutora.

Porque a mobilidade ofensiva não se faz através da forma como joga o ponta-de-lança mas sim como se move todo o ataque e seus ocupantes nos três corredores. Ou têm essas posições mais fixas (repetindo princípios de movimentaç­ão) ou fazem mais trocas posicionai­s (variando o local que ocupam).

Este, sim, é o ataque móvel que, na raiz, até pode ter um ponta-de-lança mais fixo ou, definindo melhor a sua missão no coletivo, o chamado pontade-lança de referência, que mais do que uma posição na equipa, gosto de dizer que tem uma profissão em campo. Ele é o homem de quem nunca se pergunta se jogou bem, pergunta-se apenas se marcou ou não.

2Quando este nº9 não tem essa mera missão de referência, já se perguntam mais coisas sobre o seu jogo. O ataque móvel do Benfica tem de nascer das diagonais dos extremos/alas, dos desdobrame­ntos dos laterais e, todos cruzando-se, das variações, de ritmo e espaço, do chamado segundo avançado (Rafa, outra vez, mesmo quando joga como esse “falso 9 móvel”) porque, nestes casos, quem faz essa posição é... quem surge nesse espaço.

Pode, portanto, parecer paradoxal mas para ser um ataque móvel na sua melhor versão, o ataque do Benfica precisa mais dum nº9 de referência do que Rafa a partir desse local no papel. O jogo na Escócia mostrou que Marcos Leonardo ainda é, em exigência competitiv­a máxima, um “embrião tático-técnico” rumo a essa maturidade

3O bom jogo táctico do FC Porto em Londres voltou a ter como epicentro o jogador que mudou o sistema por dento: Pepê. Ou seja, enquanto os extremos desequilib­ram o adversário, o médiocentr­o pivô-ofensivo, equilibra a... própria equipa.

É errado, porém, chamar a este terceiro médio um nº10. Não é. Na maior parte do tempo, em termos posicionai­s, ele é um interior-direito num meiocampo “a três” que, assim, permite, na inversão ofensiva do triângulo, o aparecer dum interior-esquerdo (Nico González) que na raiz do sistema parece ir ser só membro do duplo pivô que, em posse, passa a ser um pivô nº6 único, com Varela farol de distribuiç­ão e reequilíbr­io pós perda. Desta forma, mais do que a questão do ataque móvel (como se fala acerca do Benfica), o FC Porto fica com um meio-campo móvel (no tal jogo de equilibrar a equipa e desequilib­rar o adversário). Em suma, a tática só o é verdadeira­mente quando é móvel. Pepê explica isso como médio.

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Rafa, no Benfica, e Pepê, no FC Porto são trunfos táticos dos respetivos treinadore­s
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