O Jogo

Viver o momento

- Miguel Guedes

Com mais ou menos objectivos para concretiza­r, a maioria dos adeptos vive o momento, comunga selvagemen­te ao sabor do que há para ganhar e do que resta, procura encontrar alegria nas vitórias que permitam alimentar a esperança e, em última análise, secar as tristezas do dia. Viver no actual contexto, para o portismo, é perceber que o principal objectivo está distante e que quase tudo foi feito na Liga dos Campeões para continuar em prova. Sendo normal que o FC Porto saia de cena quando o adversário é o Arsenal, já é menos plausível viver com a ideia de que o “fio de jogo” interno chegou tarde e a más horas. Mas essa é a realidade de quem vê a equipa jogar. A intensidad­e que esta nova mobilidade convoca, é algo que nunca apareceu em campo até fevereiro.

Arredio a um onze tipo até alterar o sistema táctico para o agora vigente 4-2-3-1, Sérgio Conceição pode contar com um plantel confiante para chegar à final da Taça de Portugal e para tentar a aproximaçã­o a um lugar de Champions na Liga portuguesa. Se há algo que se deve assinalar (e é algo que poucos assinalam) é que há um outro Otávio a exercer papel prepondera­nte na equipa e que terá estancado a maré de dúvidas que fazia cair o Carmo e a trindade e balançava os nervos de uma defesa refém de imensas dúvidas também laterais. Fosse Otávio uma contrataçã­o de outros e teria capas de jornais a gabar a autoridade, a adaptação e a propriedad­e acrescida. A verdade é uma e indesmentí­vel até pelos números: desde que chegou, o FC Porto multiplico­u os golos e o acerto defensivo, recebendo a paz social colectiva e o equilíbrio que antes nunca conseguira. O orgulho de Sérgio perante a resposta de Chico. Se Otávio é um elemento de acerto, Francisco Conceição é um factor de desequilíb­rio e uma notável aposta de Sérgio-pai treinador. Muito criticado aquando do regresso do exílio holandês, o rompedor é um exemplo de como um jogador pode crescer em competição. Com jogos nas pernas, Chico fez-se prepondera­nte, maior, mais confiante, jogador de Selecção Nacional, absolutame­nte essencial para os processos da equipa com as qualidades que coloca em jogo. A explosão está a ser television­ada e seria guardada na memória não fosse ter muitas etapas no futuro próximo. Um jogador só abandona a sua posição quando se sente confiante para fazer diferente e recuperar o lugar. Frente ao Vizela, as constantes trocas posicionai­s entre os colegas de equipa, num ataque continuado que nunca foi previsível, foram um factor de diversidad­e de soluções que raramente assomou durante a época. Poderá dizer-se que, há três meses, a previsibil­idade atacante do FC Porto dificilmen­te ultrapassa­ria este Vizela. A três meses do fim da Liga, a previsibil­idade dos números não encontra agora uma equação que não seja a de viver o momento.

Fosse Otávio uma contrataçã­o de outros e teria capas de jornais. Já Chico é um rompedor e notável aposta de Sérgio-pai treinador

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