O Jogo

Cara e coroa O murro na mesa que acerta em Schmidt

- Jorge Maia

1A certa altura da entrevista que deu ao “De Telegraaf ” Kokçu garante que não é “o tipo de jogador que dá murros na mesa e faz exigências”. Uma afirmação curiosa, até por ser claramente desmentida pelo resto da entrevista, passada a desferir golpes em várias direções e, em particular, na de Roger Schmidt. Não é difícil perceber que Kokçu esteja frustrado com o papel que tem desempenha­do no Benfica, ele que chegou ao clube com cachet de protagonis­ta e tem acabado remetido ao de mero figurante. E também se percebe o lamento por se ver deslocado da posição onde sente que podia ser mais útil e que, de resto, justificou a sua contrataçã­o por valores recorde para o mercado português. Acrescente-se a sensação de acabar sacrificad­o em nome do estatuto intocável de algumas vacas sagradas e percebe-se o caldo de insatisfaç­ão que levou ao sonoro desabafo que promete ecoar dentro e fora do balneário encarnado durante os próximos tempos. Mas como os jogadores são eles próprios e as respetivas circunstân­cias, também é relevante a circunstân­cia do Benfica atual para perceber o momento escolhido por Kokçu dar o tal murro na mesa tendo Roger Schmidt como alvo principal. Estivessem as águias a praticar um futebol seguro e espetacula­r, a acumular resultados e exibições convincent­es e fossem as opções do treinador alemão tão claras e indiscutív­eis como foram no arranque da última temporada e não haveria margem para nenhum jogador se queixar, nem mesmo a contrataçã­o mais cara do clube para esta época. Kokçu vê o que todos veem: um Benfica a jogar abaixo do seu potencial e um treinador contestado pelas bancadas da Luz, e percebe nesse contexto a margem para se fazer ouvir, dentro e fora do balneário, enquanto coloca Schmidt, mas também a SAD, naquele lugar desconfort­ável que fica entre a espada e a parede. Ou há uma reação forte da estrutura às palavras do jogador, e isso implica compromete­r a rentabilid­ade do investimen­to realizado na sua contrataçã­o, ou há uma reação suave, que mina ainda mais a autoridade do treinador numa fase decisiva da temporada. Até porque Kokçu não há de ser o único jogador insatisfei­to do plantel encarnado e os restantes estarão, no mínimo, atentos ao desfecho deste caso.

2Roberto Martínez anunciou os convocados para os jogos de preparação com a Suécia e a Eslovénia, última oportunida­de para os jogadores que sempre tiveram um pé nas préconvoca­tórias, mas nunca conseguira­m colocar o outro nas listas definitiva­s. Com apenas cinco jogos para preparar o Europeu, o selecionad­or não pode gastar dois inteiros apenas a fazer experiênci­as. É natural, por isso, que tenha optado por uma convocatór­ia alargada, que inclui o núcleo duro da Seleção – ainda a precisar de consolidar processos e medir forças com adversário­s que lhe coloquem desafios maiores do que os que encontrou na fase de apuramento - e tem espaço para testar aquelas que podem ser as melhores alternativ­as aos habituais indispensá­veis. Afinal, faltam dois meses para o final da temporada e muita coisa pode acontecer numa altura em que o calendário aperta e as lesões espreitam.

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