Cara e coroa O murro na mesa que acerta em Schmidt
1A certa altura da entrevista que deu ao “De Telegraaf ” Kokçu garante que não é “o tipo de jogador que dá murros na mesa e faz exigências”. Uma afirmação curiosa, até por ser claramente desmentida pelo resto da entrevista, passada a desferir golpes em várias direções e, em particular, na de Roger Schmidt. Não é difícil perceber que Kokçu esteja frustrado com o papel que tem desempenhado no Benfica, ele que chegou ao clube com cachet de protagonista e tem acabado remetido ao de mero figurante. E também se percebe o lamento por se ver deslocado da posição onde sente que podia ser mais útil e que, de resto, justificou a sua contratação por valores recorde para o mercado português. Acrescente-se a sensação de acabar sacrificado em nome do estatuto intocável de algumas vacas sagradas e percebe-se o caldo de insatisfação que levou ao sonoro desabafo que promete ecoar dentro e fora do balneário encarnado durante os próximos tempos. Mas como os jogadores são eles próprios e as respetivas circunstâncias, também é relevante a circunstância do Benfica atual para perceber o momento escolhido por Kokçu dar o tal murro na mesa tendo Roger Schmidt como alvo principal. Estivessem as águias a praticar um futebol seguro e espetacular, a acumular resultados e exibições convincentes e fossem as opções do treinador alemão tão claras e indiscutíveis como foram no arranque da última temporada e não haveria margem para nenhum jogador se queixar, nem mesmo a contratação mais cara do clube para esta época. Kokçu vê o que todos veem: um Benfica a jogar abaixo do seu potencial e um treinador contestado pelas bancadas da Luz, e percebe nesse contexto a margem para se fazer ouvir, dentro e fora do balneário, enquanto coloca Schmidt, mas também a SAD, naquele lugar desconfortável que fica entre a espada e a parede. Ou há uma reação forte da estrutura às palavras do jogador, e isso implica comprometer a rentabilidade do investimento realizado na sua contratação, ou há uma reação suave, que mina ainda mais a autoridade do treinador numa fase decisiva da temporada. Até porque Kokçu não há de ser o único jogador insatisfeito do plantel encarnado e os restantes estarão, no mínimo, atentos ao desfecho deste caso.
2Roberto Martínez anunciou os convocados para os jogos de preparação com a Suécia e a Eslovénia, última oportunidade para os jogadores que sempre tiveram um pé nas préconvocatórias, mas nunca conseguiram colocar o outro nas listas definitivas. Com apenas cinco jogos para preparar o Europeu, o selecionador não pode gastar dois inteiros apenas a fazer experiências. É natural, por isso, que tenha optado por uma convocatória alargada, que inclui o núcleo duro da Seleção – ainda a precisar de consolidar processos e medir forças com adversários que lhe coloquem desafios maiores do que os que encontrou na fase de apuramento - e tem espaço para testar aquelas que podem ser as melhores alternativas aos habituais indispensáveis. Afinal, faltam dois meses para o final da temporada e muita coisa pode acontecer numa altura em que o calendário aperta e as lesões espreitam.