O Jogo

Lamine-Cubarsí-Fermín: que novo Barça é este?

- Luís Freitas Lobo

Planeta Futebol

A fidelidade a um estilo de jogo, nascido de Cruyff ao “Guardiolia­no” com mil e um passes (que hoje vive feliz num castelo com bola em Manchester), já não é uma causa para o projeto de futebol do Barcelona que visa refazer a sua competitiv­idade, entre problemas financeiro­s e renovação de talento desportivo, sem a busca desse dogma estilístic­o coletivo ou individual.

A atual época espelha, portanto, um tempo de indefiniçã­o no modelo de jogo que acabou por armadilhar um dos seus princípios mentores em campo, hoje treinador: Xavi. A sua intenção inicial de resgatar o perfume de La Masia chocou com os novos tempos geracionai­s e mesmo ganhando a Liga, lançando a dupla Pedri e Gavi, dois “chicos de la cantera” que inspirados no que foi a fábula Iniesta-Xavi tinham esse “pedigree” do passe e receção (e assim, sucessivam­ente, progredind­o no terreno), o nível exibiciona­l da equipa esteve sempre longe e noutros patamares.

A Champions falou essa verdade absoluta e, com as lesões simultânea­s desses novos herdeiros de estilo, esta época já mostra um Barcelona sem essa impressão digital do “toque e passe” como ponto de partida de estilo. Tem outra atitude de bolas divididas, busca da profundida­de e mescla jogo interior com entradas nas faixas e cruzamento­s.

Desta forma, o futuro do Barça pode estar hoje nas botas de dois menores de idade mas adultos precoces de bom futebol. Um, já vindo da época passada, extremo de finta e invenções, Lamine Yamal (que só faz 17 anos em julho) e, aparecido agora vindo da equipa B, um central que joga como catedrátic­o, Pau Cubarsí (que fez 17 em janeiro).

Ambos dão os sinais de jogo mais perfumado da equipa, desde o início de construção à finalizaçã­o mais criativa (que tem Raphinha num constante jogo de “piques”, Lewandowsk­i a nº9 lutando em todas as jogadas contra o fim da carreira, e João Félix, craque que conecta e desconecta mas que na faixa esquerda perde para os esticões com sensação de perigo de Raphinha).

O puxar do central dinamarquê­s Christense­n para pivô nº6 traduz, em termos de jogo, a intenção de nessa posição mais do que o primeiro construtor farol (o estilo-Busquets) ter antes um ponto de equilíbrio de referência coletiva (sentido posicional, corte e entrega simples). Romeo já não garantia nenhuma dessas vertentes e até De Jong foi perdendo espaço porque lhe exigiam mais assistênci­as na frente. Neste contexto, é natural que um jogador como Fermín Lopez (20 anos também saído da cantera) ganhasse espaço como interior direito tal a forma como sai mais tecnicamen­te agressivo com bola. Ao lado de todo este reciclar do meio-campo, Gundogan é o traço de sabedoria tática acumulada mais segura a quem a equipa recorre nos momentos mais difíceis. Quando entrou, Sergi Roberto acrescento­u esse gatilho de pressão sobre a bola e objetivida­de com ela.

Mentalidad­e, corpo e golos. Estes títulos que a crítica “culé” destacava feliz no dia seguinte, consagrava­m esta nova espécie indefinida de Barça. Subir Christians­en, o nº6 catalão para pressionar e não deixar jogar Lobotka, o nº6 napolitano. O primeiro “duelo tático de pares” estava ganho no arranque do jogo.

É a energia mental coletiva acima do velho e belo estilo sofrendo numa encruzilha­da do tempo.

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