Lamine-Cubarsí-Fermín: que novo Barça é este?
Planeta Futebol
A fidelidade a um estilo de jogo, nascido de Cruyff ao “Guardioliano” com mil e um passes (que hoje vive feliz num castelo com bola em Manchester), já não é uma causa para o projeto de futebol do Barcelona que visa refazer a sua competitividade, entre problemas financeiros e renovação de talento desportivo, sem a busca desse dogma estilístico coletivo ou individual.
A atual época espelha, portanto, um tempo de indefinição no modelo de jogo que acabou por armadilhar um dos seus princípios mentores em campo, hoje treinador: Xavi. A sua intenção inicial de resgatar o perfume de La Masia chocou com os novos tempos geracionais e mesmo ganhando a Liga, lançando a dupla Pedri e Gavi, dois “chicos de la cantera” que inspirados no que foi a fábula Iniesta-Xavi tinham esse “pedigree” do passe e receção (e assim, sucessivamente, progredindo no terreno), o nível exibicional da equipa esteve sempre longe e noutros patamares.
A Champions falou essa verdade absoluta e, com as lesões simultâneas desses novos herdeiros de estilo, esta época já mostra um Barcelona sem essa impressão digital do “toque e passe” como ponto de partida de estilo. Tem outra atitude de bolas divididas, busca da profundidade e mescla jogo interior com entradas nas faixas e cruzamentos.
Desta forma, o futuro do Barça pode estar hoje nas botas de dois menores de idade mas adultos precoces de bom futebol. Um, já vindo da época passada, extremo de finta e invenções, Lamine Yamal (que só faz 17 anos em julho) e, aparecido agora vindo da equipa B, um central que joga como catedrático, Pau Cubarsí (que fez 17 em janeiro).
Ambos dão os sinais de jogo mais perfumado da equipa, desde o início de construção à finalização mais criativa (que tem Raphinha num constante jogo de “piques”, Lewandowski a nº9 lutando em todas as jogadas contra o fim da carreira, e João Félix, craque que conecta e desconecta mas que na faixa esquerda perde para os esticões com sensação de perigo de Raphinha).
O puxar do central dinamarquês Christensen para pivô nº6 traduz, em termos de jogo, a intenção de nessa posição mais do que o primeiro construtor farol (o estilo-Busquets) ter antes um ponto de equilíbrio de referência coletiva (sentido posicional, corte e entrega simples). Romeo já não garantia nenhuma dessas vertentes e até De Jong foi perdendo espaço porque lhe exigiam mais assistências na frente. Neste contexto, é natural que um jogador como Fermín Lopez (20 anos também saído da cantera) ganhasse espaço como interior direito tal a forma como sai mais tecnicamente agressivo com bola. Ao lado de todo este reciclar do meio-campo, Gundogan é o traço de sabedoria tática acumulada mais segura a quem a equipa recorre nos momentos mais difíceis. Quando entrou, Sergi Roberto acrescentou esse gatilho de pressão sobre a bola e objetividade com ela.
Mentalidade, corpo e golos. Estes títulos que a crítica “culé” destacava feliz no dia seguinte, consagravam esta nova espécie indefinida de Barça. Subir Christiansen, o nº6 catalão para pressionar e não deixar jogar Lobotka, o nº6 napolitano. O primeiro “duelo tático de pares” estava ganho no arranque do jogo.
É a energia mental coletiva acima do velho e belo estilo sofrendo numa encruzilhada do tempo.