O Jogo

Saber ver além do óbvio

- Luís Freitas Lobo Planeta do Futebol luisflobo@planetadof­utebol.com

1Há sempre mais um ângulo para ver a realidade e, mesmo sendo ela demolidora, encontrar-lhe um ponto para retocar. Um treinador deve funcionar muito assim perante a sua equipa e, sobretudo, jogadores. É fácil quando estão mal e é visível o que fazer. É complexo quando estão bem e tudo parece perfeito. Amorim fez isso com Gyokeres após ele estilhaçar mais uma defesa (a do Boavista, que na primeira volta até o tinha conseguido prender) e, no fim, disse que ele esteve melhor neste jogo porque... “parou mais vezes”.

Ou seja, olhou um pouco mais para o jogo sem ser na constante projeção atlética e rápida com que ataca cada jogada e encara sempre da mesma forma o defesa, seja este mais rápido ou lento. Falou, no fundo, do entendimen­to do jogo além dos terramotos individuai­s que provoca em cada jogada (quando arranca faz verdadeira­mente a terra tremer debaixo dos pés de qualquer estrutura defensiva). No fundo, isto reflete como Gyokeres fez crescer a equipa (deu-lhe poder finalizado­r invulgar), mas também como a equipa, entendase a ideia de jogo em que joga, o fez melhorar. Por isso, os clubes ingleses não o viram enquanto jogava nos seus relvados porque, nestes, Gyokeres não era este jogador em termos de... jogo. Era, numa ideia de jogo redutora, só mais um avançado forte no contexto de jogadas para correr e lutar.

O segredo da boa prospeção (a que

faz a diferença) está em ver o que os outros não conseguem ver. Neste caso, o que um jogador tem para dar mais além das evidências. E assim Gyokeres tornou-se uma descoberta-fenómeno. Ao ponto de hoje, durante um jogo de ataque continuado, conseguir estar... parado!

É a evolução da sensibilid­ade para o jogo.

2Marcos Leonardo é um avançado com mobilidade mas não torna, só por isso, o ataque... móvel! Entra bem no decorrer dos jogos e as defesas desintegra­das, mas ainda lhe custa mover-se e desequilib­rar (descobrir os espaços curtos no “timing” certo dos atacar) perante defesas tão fechadas (como o

5x4x1 rochoso do Casa Pia).

Por isso, o ataque móvel viu-se na melhor expressão quando entrou outro ponta-de-lança que diziam pesadão e dado à marcação: Cabral. Dentro dele, porém, já estão outros manuais de jogo e movimentaç­ão. Assim, mal entrou, soube que a melhor forma de encontrar a estrada para a baliza era sair dessa jaula populosa da zona central e ir buscar na largura (mobilidade certa) para depois arrancar (usando técnica e poder físico) até definir.

Aqui está mais um bom paradoxo para analistas que definem uma forma de atacar (móvel) só por um jogador e não, como deve ser, por como ele se move com a equipa e a equipa com ele. O ataque fica mais móvel com um n.º 9 de referência!

Como Gyokeres melhorou porque... parou mais vezes e Cabral tornou o ataque mais móvel sendo por definição um n.º 9 mais de referência

 ?? ??
 ?? ??
 ?? ?? Gyokeres e Arthur Cabral são avançados diferentes
Gyokeres e Arthur Cabral são avançados diferentes

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal