O Jogo

O principal continua a ser a bola

- Luís Freitas Lobo luisflobo@planetadof­utebol.com

1 Eu sei como a dimensão física dita tantas leis hoje no chamado futebol moderno (e ameaça dominar mesmo o do futuro), mas gosto de pensar na Seleção portuguesa a partir dum estilo tradiciona­l (vindo mesmo do tempo em que se dizia que jogávamos bem mas não íamos a lado nenhum) com técnica e a paciência, ou melhor, prazer, em ter a bola acima das obsessões táticas e físicas que pretendera­m sempre apropriar-se do jogo. A bola necessita, porém, do melhor enquadrame­nto tático para a... técnica (com expressão coletiva e não só individual) emergir.

Esse foi o ponto em que o nosso futebol mais evoluiu. Porque o talento sempre foi, historicam­ente, essencialm­ente individual. Tenho ideia que os treinadore­s procuravam ensinar a jogar mais os jogadores do que as... equipas. Quando sucedeu o inverso (o jogador nunca visto sem a equipa) tudo mudou.

A exibição da Seleção contra a Suécia, viajando juntos num jogo apoiado, foi a expressão clara disso, apresentad­o à bola, através da qualidade de passe, todos os pedacinhos de relva do campo.

2 Neste seu ciclo de vida, a nossa Seleção no reinado de Martínez, tem mecanizado diferentes sistemas. Começou nas variantes de três centrais e evoluiu depois para a clássica “linha de 4” (entre o 4x4x2 ou o 4x3x3).

Chegados a este ponto, a equipa sabe mover-se nessas diferentes estruturas e não estranha a mudança de jogo para jogo. Favorece a amplitude de opções estratégic­as do treinador e pode dar diferentes soluções, sobretudo do ponto de vista de equilíbrio defensivo.

Martínez tinha falado disso

antes deste jogo, como um teste à nossa defesa, contra uma Suécia de futebol físico e dois pontas-de-lança.

Podia isso supor uma opção de três centrais mas o desenho surgiu no melhor 4x3x3 luso com apenas um pivô (Palhinha, âncora de equilíbrio indispensá­vel para esta fórmula -Martínez).

Metendo Bernardo Silva como organizado­r-vagabundo a partir da ala direita para pegar no meio (como o 10 que tem na camisola) e Matheus Nunes interiordi­reito solto, Portugal ganhou o corredor central (fazendo quase quatro médios em construção com Bruno Fernandes na meiaesquer­da) e assim o hipotético teste defensivo (que nunca existiu na fase de apuramento) transformo­u o jogo em mais num ensaio atacante.

3 A segunda parte tornouse mais num tubo de ensaio para individual­idades do que para processos coletivos. É natural num jogo destes. A equipa perdeu esse melhor entrosamen­to (a defender e a atacar), deixou os suecos meter o nariz em jogo, mas, mesmo assim, fez mais golos num jogo sem a ordem tática obrigatóri­a nas situações de exigência normal.

A estreia de Jota deu o toque de conto de fadas à noite de Guimarães, João Neves entrou com a naturalida­de de que já tem 100 internacio­nalizações e Bruma fez um golo só de encostar mas que expressa a irreverênc­ia responsáve­l de todos que entram. Mesmo que entre a primeira vez na Seleção, o jogador português tem hoje uma mentalidad­e competitiv­a e conhecimen­to tático que o faz entrar e ser um peça no conjunto como se estivesse nele há muitos anos. Só respeitand­o tanto a bola se pode jogar assim. Os jogadores e a equipa.

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Portugal bateu a Suécia por números expressivo­s

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