O Jogo

CHICO GORDO: UM FARO INDOMÁVEL

Referência nas marcas a bater no clube, o antigo goleador, já falecido e que está na mira de Banza, é lembrado por ex-colegas

- PEDRO CADIMA

Viagem com Rodrigo ao volante e Conhé de pendura para aprofundar os registos do angolano na história do Braga: 89 golos em cinco épocas e o melhor de sempre na liga: 21 golos. Banza anda muito perto.

Banza persegue Chico Gordo, um dos maiores goleadores da história do Braga, que ostenta o recorde de golos numa só época pelos minhotos no campeonato. Com 19 rematescer­teirosem20­23/24, o dianteiro congolês já igualou Ricardo Horta e tem oito jornadas para ultrapassa­r nomes de referência como Mário, Lima e Chico Gordo, este o mais demolidor de todos, em 1977/78, colocando 21 remates certeiros nas redes contrárias, ajudando, decisivame­nte, a um 4.º lugar dos guerreiros. O angolano, falecido em 2000, só perdeu para Gomes, 25 golos, a Bola de Prata, objetivo que viria a ser materializ­ado por Lima em 2011/12, com 20 golos, sendo o único guerreiro a gozar dessa honra. Chico Gordo jogou em Braga entre 1975vindo do Moxico, onde jogava com Seninho, após fim da guerra colonial - e 1980, e assinou 89 golos, fazendo dupla recorrente com Chico Faria. Figura querida em Braga, o atacante de Benguela passou pelas Antas, descoberto pelo FC Porto no FC Lobito, antes do Minho, e Sado, na sequência da sua imponente folha de serviços no 1º Maio.

Os cinco anos de Chico Gordo em Braga escrevem-se com golos, viagens do Porto na companhia de Rodrigo e algum mau feitio, que era tema de conversa no balneário. “Tínhamos uma grande equipa, com Conhé, Quinito, Nelito,

Lito, o 4.º lugar é prova disso e o Chico era o nosso ponta-delança. Daqueles que hoje não se encontram, era mesmo jogador de área, tipo Gomes. O guarda-redes largava e ele não perdoava, mesmo que estivesse 70 ou 80 minutos sem tocar muito na bola”, lembra Rodrigo, antigo médio, hoje com 70 anos, que o guiava até Braga. “Era um bocado complicado de aturar, eu levava-o sempre: saía de Lourosa e parava no Porto para o apanhar. Se andava numa fase má, se não marcava em dois jogos seguidos,

protestava muito e reclamava dos jogadores, por achar que não lhe passavam a bola. Tinha esse dom de resolver sem se dar muito ao jogo”, conta, resumindo: “Era bom moço, de feitio singular.”

Socas pelo ar, zanga de Chicos e morte terrível

Lendário guarda-redes do Barreiro, iniciado na CUF, Conhé chega a Braga já na fase final da carreira. Chico Gordo cativava, mas também desconcert­ava. “Era um bom rapaz, um grande avançado e um ótimo goleador, valente e muito forte de cabeça, aquele jogador de área que fazia sempre o seu golo.Maseramuit­odesconfia­do, tinha o seu feitio”, explica, aproximand­o Chico de Banza no caráter letal do jogo aéreo. “Ele fazia sempre a viagem Porto-Braga com o Rodrigo, e nem sempre chegava bemdispost­o.

Pegava nas socas e atirava à parede mal entrava no balneário e nós lá dizíamos ‘chegou o Chico com azia’. Metíamo-nos muito com ele, por causa desse temperamen­to”, acrescenta, lembrando que o choque maior era com o seu homónimo e conviva de ataque. “Não gostava nada do Chico Faria, não se davam, e culpava-o por ter sido obrigado a mudar de nome, passou a

ser chamado de Chico Gordo para se distinguir­em os dois Chicos. Andava sempre furioso com isso”, graceja, levandonos a vasculhar nome completo do craque: Bernardo Francisco da Silva Gordo. Gordo, que nem o era, só mesmo pelo apelido. Conhé lamenta a morte terrível que apanhou o companheir­o em 2000, vítima de horrendo acidente de trabalho quando manejava uma máquina como operador não especializ­ado na área da embalagem. Relatos da época apontam uma fatídica escorregad­ela que fez com que tombasse sobre a lâmina afiada do aparelho que cortava chapa e Chico acabou por morrer decepado, sem auxílio. Um final demasiado cruel, quanto tinha 51 anos, e não obtivera uma vida tão independen­te como desejara depois do futebol.

CHICO GORDO, UM NOME HISTÓRICO, FEZ PARTE DE UMA GRANDE EQUIPA DO BRAGA E ASSINOU 21 GOLOS NO 4.º LUGAR DE 1977/78

“Culpava Chico Faria de ter passado a ser o Chico Gordo”

Conhé Antigo guarda-redes do Braga

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Banza está a três golos de bater um recorde de Chico Gordo, com mais de 40 anos

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