“Estamos 30 anos atrasados”
Pede celeridade na aplicação de ações estratégicas e invoca melindre por queda no ranking
João Fonseca debruçase sobre o cenário dos direitos televisivos a nível nacional e soma outros alertas.
Que sensibilidade tem para a realidade da centralização por cá, onde se discute tanto a desigualdade, tendo o presidente do Braga sido voz bem incisiva?
—O imperioso é trabalhar na estratégia e perspetivar as soluções de comercialização. Três anos volvidos desde a aprovação do decreto-lei e não se vislumbra solução. Este é um passo vital para a nossa profissionalização enquanto Liga. António Salvador acredita na força da Liga como um coletivo. Só assim os clubes conseguirão ser mais fortes individualmente. Urge aumentar a competitividade entre pares, beneficiará a Liga como um todo e teremos mais clubes capazes de pontuar na Europa e contribuir no ranking. Também ao nível do licenciamento, o caderno de encargos da centralização tem de ser maismodernoerigoroso.Uma Liga que se quer profissional e sustentável não se compadece com salários em atraso ou infraestruturas deficitárias. A centralização, a ser bem implementada, ajudará a eliminar várias carências ainda bem visíveis. Infelizmente, vou vendo alguns arautos da desgraça. Desgraça é estarmos 30 anos atrasados em comparação com as restantes ligas europeias. Mas desengane-se quem achar que a centralização resolverá todos os problemas.
Em que toca exatamente?
—O processo de profissionalização da nossa Liga é um processo longo e terá dores de crescimento. Estamos melhor hoje e temos assistido a uma evolução positiva nos últimos anos. Mas é preciso acelerar! Os clubes têm profissionais mais do que competentes para, em conjunto com a Liga, ajudarem a construir um futuro risonho. Seja em que indústria for, decisões estratégicas e reformistas requerem uma boa dose de paciência, determinação e contínua confiança no processo.
A perda de força no ranking da UEFA é alarmante?
—Ofutebolportuguêsencontra-se em clara definição estratégica. Novos formatos competitivos na Europa, a centralização dos direitos audiovisuais, o ranking de clubes UEFA, a FIFA Clearing House e a
Casa das Transferências nacional, a sustentabilidade financeira e controlo económico interno, o investimento em Football Business Schools... Existeumsemnúmerodemedidas a implementar ou em implementação. Tenho dúvidas que esteja a ser dada a devida importância à queda no ranking de clubes. Cair mais pode traduzir-se numa verdadeira agonia e na falta de sustentabilidade financeira para os clubes portugueses. Lembramo-nos das boas performances de clubes gregos ou turcos, para não falar de russos ou ucranianos por razões óbvias. Devido a estratégias deficientes e falta de alinhamento interno, estão hoje reduzidos a um papel irrelevante a nível europeu. Esse é um risco que Portugal não se pode dar ao luxo de correr. Temos um talento desmesurado a todos os níveis e precisamos de fazer jus ao mesmo.