O jogador: a importância de se sentir importante
1É um sentimento que pode confundir-se com o ego (e, nesse caso, muitas vezes funcionar ao contrário), mas o jogador sentir-se importante dentro da equipa é essencial para o seu rendimento. Dois jogadores fazem-me pensar nesta questão de expressão da sua personalidade dessas diferentes formas. Kokçu desabafou numa entrevista sobre o que sentia neste momento (sentimento acumulado ao longo da época) dentro da equipa do Benfica, “que não o faziam sentir-se importante”. Foram palavras saídas do ego. Jota Silva entrou como num conto de fadas na Seleção (o mesmo jogador que há cinco anos ainda andava nos distritais) e em todos os momentos, como falou e a sua face se iluminou ao chegar ao estágio para depois, quando Roberto Martínez o lançou no jogo (a meio da segunda parte), correr com toda a alegria e sua vida na cabeça a cada bola que lhe chegava. Foram movimentos saídos do sentimento.
2São, claro, situações muito diferentes, incomparáveis, mas no mundo de emoções que faz a personalidade dum jogador e molda-lhe a * cabeça para o rendimento são fatores decisivos a que um treinador tem de estar atento. Mais que a tática, a sensibilidade emocional. Jota entrou até para jogar mais como um n.º 9 solto, o que não é a sua posição nem o melhor local para explodir com espaços em profundidade, o que faz de forma mais desequilibradora (meias em baixo nas caneleiras pequenas) quando joga mais em largura, como um médio-ala direito a buscar penetração entre central e lateral. Naquele momento, porém, ele só queria era estar em campo.
Vejo Kokçu a jogar na seleção da Turquia e a importância que pode ter naquele meio-campo não resulta da posição (algo de que se queixava em relação à sua utilização no onze do Benfica), mas sim da importância que adquire nela (como um n.º 8 livre para ser n.º 10, como faz muitas vezes no Benfica) em relação aos outros integrantes do setor. Enquanto na seleção turca eles jogam (movimentam-se) muito em função dele. No Benfica, isso já não sucede e basta, para constatar isso, ver o natural protagonismo que tem João Neves nessa posição/ dinâmica que tantas vezes obriga Kokçu a baixar para “6” (e noutras opções táticas de jogo, alinhar até desde a esquerda, partindo da ala, onde se sente estranho).
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O n.º 10, ou jogar nessa posição, faz qualquer jogador sentir-se importante, mas neste Benfica já existe Rafa nesse espaço. Penso que as mudanças de Schmidt, a colocar Rafa a n.º 9, já foi muito por pressentir o ego insatisfeito de Kokçu e, assim, querer arrumar todos esses egos no mesmo onze, mas tal tem um risco máximo: para os jogadores (todos, sobretudo os com egos maiores) se sentirem importantes, a consequência (dano colateral de grupo) é fazer a equipa sentir-se o ser coletivo menos importante. O treinador nunca pode cair nesse alçapão.