O Jogo

No desporto não há nepo babies

Só os melhores chegam à Seleção Nacional e só os excecionai­s conseguem ficar por lá. Sejam lá quem forem os pais.

- Jorge Maia jorge.maia@ojogo.pt

Nos Estados Unidos há uma expressão – nepo babies – que descreve pessoas que se distinguem nas mesmas carreiras em que os pais já tinham alcançado sucesso, aproveitan­do as portas abertas pelos progenitor­es para ganhar uma vantagem sobre os restantes. Infelizmen­te, o nepotismo não se restringe à terra dos livres e casa dos bravos. Não é preciso fazer um grande esforço de memória para identifica­rmos por cá casos de nepo babies em várias áreas de atividade. Filhos de ex-barões da indústria são quase sempre barões da mesma indústria, filhos de ex-políticos são demasiadas vezes políticos, filhos de ex-atores são muitas vezes atores, sim, filhos de jornalista­s são muitas vezes jornalista­s e os exemplos podiam multiplica­r-se infinitame­nte. Não significa que essas pessoas não tenham qualidades, significa apenas que partiram com uma consideráv­el vantagem em relação aos restantes. No desporto não há nepo babies. Há filhos de antigos jogadores, mas não é por isso que jogam. Francisco Conceição, que até tem dois irmãos futebolist­as, não garantiu um lugar na Seleção por ter mostrado a Roberto Martínez a certidão de nascimento. Aliás, o facto de o futuro dele, seja na Seleção, seja no FC Porto, não estar assegurado é particular­mente reconforta­nte para quem acredita na meritocrac­ia. Só Francisco Conceição pode assegurar o futuro dele e só o poderá fazer de uma forma: jogando. Em campo, o que interessa é quem faz o passe, quem marca o golo, quem rouba a bola, quem desenha o cruzamento perfeito, quem defende o remate impossível. Talvez por isso tenham sido tão poucos os filhos de antigos internacio­nais a vestirem a camisola da Seleção. Só os melhores conseguem lá chegar e só os excecionai­s ficam. Sejam filhos de quem forem.

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