O Jogo

A reconstruç­ão checa e a nova Turquia-tática

- Planeta Futebol Luís Freitas Lobo

1O tempo passa rápido. A primeira vez que apareceu na imagem, de pé no banco, neste seu jogo de estreia no comando na seleção da República Checa (Chéquia), foi difícil ver que era mesmo ele. Ivan Hasek. Na verdade, ele tinha mesmo vindo de “outro tempo”. Tinha ainda a memória dele como o capitão da última seleção da Checoslová­quia (então, nação unida da “cortina de ferro”) no Mundial de 90. Um médio que sabia jogar ainda com o velho perfume coletivist­a de leste, que tinha então mais jogadores como Chovanec e o gigante Skuhravy a ponta-de-lança. Esta já é, no presente, outra realidade. Hasek sabe disso e ao cabo de uns anos parado (após treinar no Líbano) aceitou regressar ao local onde está a sua essência de vida.

2Na Noruega, usou este jogo como ensaio para novas ideias táticas, passando do sistema de três centrais, preferenci­al do antecessor Shilhavy, para o um 4x2x3x1. Tem ponta-delança para isso, Patrick Schick (que falhou todo 2023 na seleção por lesão), mas a equipa ainda precisa de afinar esta nova forma de jogar para o assistir. Quando, porém, meteu em campo os melhores jogadores desta geração checa (iniciou com várias experiênci­as) já se viram os melhores traços de como pode jogar, combinando na frente com Hlozek, robusto desequilib­rador com técnica a sair da marcação apertada devido a como trata a bola com essa morfologia tecnicista, arrancando desde a esquerda (como o moderno “avançado de faixa”).

As principais dúvidas ficam na defesa com linha de 4. Holes e Zima são centrais fortes mas sem jogo de cintura. Por isso, é possível regressar aos três centrais, tendo para dinamizar a faixa um excelente lateral-direito, Coufal, pulmão e visão tática.

O melhor desta variante 4x2x3x1 está em juntar um meio-campo a três, num triângulo que tem uma dupla central insubstitu­ível: Soucek, nº8 de passada larga a chegar à frente em condução de bola, adulto a jogar, forte e sem nunca perder o local certo em campo, e Sadilek, um nº6 que funciona no duplo pivô subindo também a pressão, recuperado­r de bolas que depois passa de forma simples. O terceiro médio pode ser Provod (tanto no duplo pivô como mais subido) ou o canhoto Barak (que fez o golo da vitória de livre, com todas a rotinas táticas adquiridas em Itália).

3

A Turquia ficou uma seleção mais responsáve­l taticament­e com o traço de inspiração italiana metido por Montella. Entrou a meio da campanha e mudou a face da equipa no sentido de conter o seu permanente impulso ofensivo que “partia o jogo” e a expunha defensivam­ente. Agora é sempre um bloco mais compacto a subir e descer.

Terá também problemas nos centrais (Kabak-Akadyn são um dupla demasiado estática) mas pode controlar qualquer jogo através da qualidade o seu meio-campo, no qual Kokçu ganha o estatuto de “jogador importante” (que reclamou não sentir no Benfica) jogando mais perto da posição nº10 de que gosta. Desta forma, é sempre ele a aparecer para o último passe (quase um pivô ofensivo) e coordenar o ataque entre linhas, ficando atrás mais em organizaçã­o de saída o perfume tático-técnico de Çalhanoglu, nº10 de outro tempo, com olhos por todo o corpo a distribuir jogo e a meter a bola onde quer. A seu lado, Yuksek é um equilibrad­or que neste “2x1” do meio-campo, tanto fecha a defender como sai com técnica a jogar.

4

Espiando Turquia e Chéquia, adversário­s de Portugal no Europeu

Perdeu, frente à renascida Hungria de Szoboszlai, mas mostrou as bases que a podem fazer crescer no Euro, esperando que, no ataque, o nº8 Enes Unal resgate a melhor forma. É um nº9 com grande potencial (físico e técnico), com remate mas as lesões têm travado a sua afirmação. Desde as fixas, Akgun sente dificuldad­e no um-para-um (gostava de ver Akturkoglu a titular desde a direita, veloz, repentista com golo) enquanto Yildiz entra muito bem desde trás mas custa-lhe a fazêlo sempre em diagonais. Tem futebol para mais e, aos 18 anos, nele está muito do melhor futuro ofensivo do futebol turco.

 ?? ??
 ?? ??
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal