O Jogo

Um conto de fadas ao vivo e a cores

- Pontapé para a clínica

Já lá cantava Frank Sinatra: “Os contos de fadas podem tornar-se realidade, pode acontecer-te a ti”. Na quinta-feira, no D. Afonso Henriques, assistimos a um, ao vivo e a cores. Quando Jota Silva pisou o relvado, cumpriu-se o sonho. Do Sousense à Seleção Nacional. Das profundeza­s das divisões amadoras ao topo do futebol luso.

O conto de fadas só não foi perfeito porque, ao cair o pano, o guarda-redes sueco não deixou. Tivesse a bola entrado e o estádio tinha vindo mesmo abaixo. Sim, porque os muitos vitorianos que foram ao jogo sentiam a presença do nosso avançado como um ato de justiça ao seu próprio emblema. Por isso se empolgaram até quando ele saiu para aquecer. Por isso entoaram em uníssono o seu nome nas bancadas. Porque a presença daquele homem em campo era o símbolo de algo maior do que a mera estreia de alguém com as cores da seleção do seu país. Foi bonito.

Dito isto, que ninguém retire um átomo que seja ao mérito de quem tudo fez por melhorar todos os dias. Que não nos esqueçamos que o percurso de Jota Silva é o triunfo da perseveran­ça. Porque o Jota que vestiu a camisola das quinas não é já sequer o jogador que, no verão de 2022, chegou a Guimarães. Aqui continuou a crescer e vai continuar a crescer onde quer que prossiga a sua carreira: em Guimarães, ou noutras paragens.

Jota pode dar à equipa de todos nós coisas que muitos do que lá têm lugar cativo não dão

Por isso me parece que esta chamada pode muito bem não vir a ser “filha única”. Porque acredito que, se o jogador mantiver esta trajetória, pode dar à equipa de todos nós coisas que muitos dos que lá têm lugar cativo não dão. Haverá (como houve) quem discorde desta chamada. Nada de mais nisso. O que me parece é que muitas dessas opiniões se fundaram em más razões: a convicção de que só quem tem determinad­o “pedigree” é que é merecedor de chamada.

Felizmente, Roberto Martínez não vê o futebol com palas nos olhos e achou por bem ver com os seus próprios olhos o que valem jogadores como Jota, Francisco Conceição ou Dany Mota. Sem preconceit­os. Sem manias. Com abertura. O que se espera, daqui em diante, é que, tal como sucede noutras seleções, os selecionad­ores não se autolimite­m a um conjunto de opções pré-definidas e determinad­os “passaporte­s”. Com isso ganha a Seleção e ganham clubes como o Vitória. Em suma, ganha o futebol português.

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