O Jogo

“Já olham para mim de outra forma” LUÍS CASTRO

PROTAGONIS­TA Técnico português, depois de brilhar com as equipas jovens do Benfica, está a salvar o Dunkerque

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Chegou ao clube da II liga no fim de setembro e já o tirou do poço de descida onde estava mergulhado, tendo um registo pontual desde janeiro sem igual nos campeonato­s profission­ais de França.

VÍTOR RODRIGUES

Luís Castro, de 43 anos, conquistou a UEFA Youth League e a Taça Interconti­nental sub-20 pelo Benfica e saiu quando esperava ficar. Emigrou porque queria ter a experiênci­a de treinar num dos cinco principais países “futebolíst­icos” da Europa. Está em França, na II liga, a mostrar serviço e a conquistar espaço.

Pegou no Dunkerque no final de setembro em lugar de descida, com uma vitória em sete jornadas. Com o último triunfo deixou para trás a linha de despromoçã­o. Como conseguiu este milagre?

—Conquistan­do os jogadores aos poucos. Eles gostaram muito da metodologi­a de treino e da forma de trabalhar, mas demoraram algum tempo a adquirirem a ideia de treino e de jogo. Depois, no mercado de janeiro fomos muito inteligent­es na forma como atuámos, fomos buscar jogadores que nem sequer eram titulares nas equipas onde estavam de II liga. Tudo somado, a equipa agora está mais sólida e mais competente.

Teve de introduzir mudanças radicais para que a equipa começasse a render?

—Alterámos muito, o sistema de jogo, as ideias e a forma de treinar. Fisicament­e, a equipa não aguentava os 90 minutos, caía muito na parte final e nos primeiros jogos que orientei jogávamos bem de início mas o rendimento caía antes do fim e perdíamos. A parte física está agora muito melhor. A equipa melhorou muito.

Qual foi o momento em que sentiu que a equipa deu o clique?

—Já sentia os jogadores a acreditare­m, mas sempre confiei que a pausa de dezembro seria decisiva para nós, para parar, não ter a pressão de jogar e ter tempo para trabalhar. Cheguei a meio da semana e tivemos três jogos nesse período, tendo sofrido três derrotas. Não houve tempo para nada. Achava que essa pausa seria benéfica para nós em termos de trabalho e mentalment­e, e aconteceu mesmo essa viragem. A partir do primeiro jogo de janeiro não voltámos a perder e nesta segunda volta temos sete vitórias e três empates. Na classifica­ção da segunda volta, e o jornal O JOGO até já o destacou, somos a melhor equipa do campeonato. Não vou dizer que é um milagre, mas é algo fora do normal tendo em conta os orçamentos das equipas que defrontamo­s.

Aliás, tem mais pontos ou média pontual que o campeonato da II liga e a Ligue 1 juntos. Melhor até que o poderoso PSG…

—É uma grande surpresa para toda a gente aqui, até por sermos um clube que veio da III divisão e que nos últimos 20 anos só esteve duas vezes na II liga, e também pela dimensão e orçamento. É algo que é fora do normal.

Quando foi contratado, que objetivo lhe foi pedido?

—Foi-me pedida a manutenção, alterar a forma de jogar da equipa, porque era mais defensiva, não tinha muita bola. Foi pedido que alterasse a ideia de jogo e, conhecendo o meu perfil, que potenciass­e jovens jogadores.

Essa mudança para um estilo de jogo mais ofensivo tinha como justificaç­ão aproximar mais os adeptos da equipa?

—A pessoa que está à frente do projeto foi um grande jogador, o Demba Ba, que jogou no Chel se a, e ele acredita que o futebol deves e rum desporto de prazer, gosta de futebol ofensivo, de equipas que ataquem e acredita também que isso é uma forma de trazer mais gen

“Estamos a seis pontos do play-off mas o objetivo é a manutenção”

LUÍS CASTRO

“Trajeto? Não vou dizer que é um milagre, mas é algo fora do normal tendo em conta os orçamentos das equipas que defrontamo­s”

“Demba Ba pediu-me um futebol mais ofensivo”

te ao estádio, de dar mais satisfação a quem vê os jogos. Também para atrair e potenciar jovens talentos convém que se jogue bom futebol porque a velocidade de evoluçãoé maior e são mais vistos.

Depois dos últimos resultados, o Dunkerque ocupa a 14.ª posição, com quatro pontos a mais em relação à linha de descida, mas apenas a seis para o play-off de promoção à Ligue 1. A meta mantém-se ou os objetivos terão de ser redefinido­s?

—Já muita gente aqui olhou para a classifica­ção desse ponto de vista, mas temos de manter a humildade, continuar a trabalhar muito. Vou-lhe dar um exemplo: fomos jogar ao Paris FC e ganhámos, um clube que contratou este ano um jogador por dois milhões de euros, nem falo dos salários que pagam, fomos também vencer fora o Troyes, que contratou um central por 3,5 milhões no início da época. O campeonato é difícil, há equipas muito fortes. Se tirarmos os bêsdeBen fica e FC Por toda II Liga portuguesa, que têm maior avaliação de mercado, ova lorde mercado da II ligaf rances aé três vezes superiorà portuguesa e há equipas aqui que, excluindo os quatro grandes nacionais, têm orçamentos superiores às restantes da Liga portuguesa. Também vi a tabela, vi que estamos a três pontos da metade e a seis do play-off mas o objetivo principal continua a ser a manutenção.

Esta surpreende­nte subida da sua equipa tem provocado reações em França. Sente que olham de maneira diferente para o Dunkerque e para si?

—Sinto que olham de forma diferente para o clube e também para mim. França é um dos cinco grandes países do futebol, não é fácil um treinador estrangeir­o entrar aqui, mas quando se consegue tem de se mostrar o porquê. Felizmente para mim essa dúvida já passou e em relação à equipa, tanto os adversário­s como a Comunicaçã­o Social, olham já de maneira diferente para nós.

Em janeiro contratara­m sete jogadores. Foi um voto

de confiança no seu trabalho?

—Acredito que sim. A Direção sem preme apoiou, quem comprou o clube já tinha um plantel praticamen­te montado com a época a começar, tendo janeiro sido a primeira oportunida­de que a nova administra­ção e eu próprio tivemos para fazer ajustes dentro daquilo que são as nossas ideias. Entraram vários jovens talentos, alguns que não tinham espaço nas equipas onde estavam. Gosto de trabalhar com jovens e se tiverem talento podem fazer esse caminho. Fomos buscar dois ou três jogadores mais experiente­s. Com a ajuda do scouting, que foi reativado no clube apenas em novembro, conseguimo­s fazer um bom mercado de janeiro.

“É uma grande surpresa para toda a gente aqui, até por sermos um clube que veio da III divisão”

“Sair da II liga portuguesa para a II liga francesa é um passo em frente, a competição aqui é mais forte”

Assegurand­o a permanênci­a, há a possibilid­ade de se manter para a nova temporada

“Se a permanênci­a se confirmar, é praticamen­te certo que irei continuar no clube”

—Sim. Se a permanênci­a acontece ré praticamen­te certo que irei continuar no clube.

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Luís Castro deve continuar no clube na próxima temporada

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