O Jogo

Seleção num tubo de ensaio

- Luís Freitas Lobo Planeta do Futebol luisflobo@planetadof­utebol.com

1Depois da exibição completa de Guimarães dentro do nosso habitat tático natural, Martínez decidiu meter a Seleção de cabeça dentro dum tubo de ensaio e ela ficou dentro dele taticament­e de pernas para o ar.

A partir dum sistema de três centrais (Danilo-Pepe-Inácio) meteu Cancelo por dentro no início de construção (vindo de lateralesq­uerdo para ficar ao lado de Rúben Neves) pedindo, nesse momento, a Vitinha para jogar mais aberto na esquerda, Otávio desde a meiadireit­a e João Félix com Ronaldo na dupla de ataque.

Era quase um 3x2x3x2 na saída em posse de bola mas que sofria depois na transição defensiva pelo tempo que demorava a reposicion­ar-se para fechar sobretudo em largura. Foi uma experiênci­a de risco assumido mas que pode confundir a avaliação aos novos jogadores que podiam entrar na convocatór­ia final. A Eslovénia pressentiu esse desequilíb­rio a que Portugal se expunha no momento de perda da bola e começou a explorar as bolas longas metidas na profundida­de. Foi criando alguns lances mas só na segunda parte encontrou os tempo certos para sair com espaços abertos nos três corredores e fazer dois golos, com os médios (Cerin completo) a juntar-se à dupla de pontas-de-lança (Sesko, n.º 9 forte) em cima do desequilíb­rio posicional defensivo luso.

Um jogo taticament­e fora do contexto que colocou a Seleção num território estranho no qual os

jogadores nunca reconhecer­am os terrenos certos a ocupar (com bola para construir e sem bola para fechar espaços).

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Martínez disse, no final, que foi um jogo cheio de informação, mas vendo a fase avançada de solidifica­ção da nossa forma de jogar (em 4x4x3, 4x2x3x1) esta mudança tática foi contraprod­ucente para a evolução do jogo da Seleção portuguesa. É difícil descobrir o sentido desta opção quando era o último jogo antes da convocatór­ia final. Nesta altura, mais do que procurar variantes táticas novas, Portugal deve trabalhar em cima das que tem e acrescenta­r-lhe apenas camadas de estratégia ou nuances de movimentaç­ão em face das

caracterís­ticas diferentes entre alguns jogadores para as mesmas posições. Tudo o mais é meter o nosso futebol numa “casa tática alheia” que só pode confundir os bons princípios de jogo já enraizados como os vistos contra a Suécia. Desrespeit­ando essas bases, perdeu de forma clara só fazendo um remate à baliza durante o jogo todo sem nunca encontrar o tempo certo de fazer o último passe.

O pior que pode acontecer é Martínez estar a pensar nesta variação tática como opção para o Euro. Esta estrutura de três centrais confunde a equipa toda. A clássica de “linha de 4” dá-lhe o contexto certo para o jogar bem com o jogo posicional ideal para as melhores linhas de passe e decisões com bola.

Um jogo taticament­e fora do contexto que colocou a Seleção num território estranho que os jogadores nunca reconhecer­am

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Portugal caiu com estrondo no particular frente à Eslovénia

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