O Jogo

“Ir à ‘cova’ só para ser preso”

Américo entende que a cortiça fixou gente em Lourosa e Feira ganhou habitantes de outras origens

- PEDRO CADIMA

Antigo jogador do clube, que atravessou vários períodos e atuou com dois irmãos, Américo Teixeira reflete sobre ditados de família e alicerces de apoio distintos entre Feirense e Lourosa.

Américo Teixeira é representa­nte de uma família tradiciona­l do Lourosa, tendo chegado a jogar na equipa do coração com dois irmãos mais velhos no final da década de 60. O antigo médio, de 73 anos, encarna o sentimento mais acirrado e inflamado dos lourosense­s, decompondo uma rivalidade mais de gabinete do que de chuteiras. “É algo agridoce, porque no que toca a futebol ariva lida de-mor écomoL amas, aíé pura eletricida­de. Como Feirense tudo vem de um contexto mais institucio­nal, de ser o clube da sede de concelho. Foi algo que teve impacto nos anos sessenta e setenta, quando se dizia, ouvindo do meu pai ‘ir à cova (Feira) era só para pagar impostos ou ser preso’”, graceja. “No campo temos de perceber que o Feirense subiu à primeira no início dos anos sessenta e alguns dos jogadores eram de Lourosa, inclusive o meu irmão Zé. Joguei mais tarde com ele no Lourosa e com outro irmão, o Quim”.

Américo Teixeira admite que nada de outro mundo ocorreu entre corticeiro­s e fogaceiros. “Em Lourosa havia momentos complicado­s, um jogo com o Tirsense acabou com tiros, mas com o Feirense era algo da esfera política, eles tinham o poder e nós éramos subjugados”, argumenta, reforçando a tese da amizade.

“Os jogadores conheciam-se bem, às segundas-feiras era comum irmos todos a Espinho, à feira, de jornal debaixo do braço, sugerindo que éramos jogadores para impression­ar as raparigas. Eu era muito amigo do Acácio e do Cândido, do Feirense. Os adeptos também se viam ali e era tudo cordial. O que nos dividia era a importânci­a da Câmara”, realça.

Américo Teixeira é perentório sobre as disparidad­es de fervor que caracteriz­am o concelho, onde Lamas, perto de subir ao Campeonato de Portugal, e Lourosa são campeões no distrito de Aveiro e no concelho da Feira em molduras humanas tremendas.

“Lourosa tem esta imensidão de gente a apoiá-lo, este sentimento ferrenho, com razão de ser. Sempre foi uma terra com a implantaçã­o do negócio da cortiça que fixou mais de 10 mil pessoas, ao passo que o normal da Feira eram três ou quatro mil. A sede do concelho só cresceu nas últimas décadas. Por muito que o Feirense queira ter uma massa adepta forte não consegue, porque os que têm não são genuínos, são pessoas que lá foram parar, não herdaram essa cultura de apoio ao clube da terra”, justifica Américo Teixeira, sorrido com uma meta de sonho que se aproxima a olhos vistos.

“É certo que o Lourosa com o 2.º lugar na 2.ª Divisão de 1975/76, era a 21.ª equipa a nível nacional, mas nunca esteve num patamar profission­al como a Liga 2. Não parece que fuja, tem um pássaro e meio na mão. Chegar a essa divisão, esperando também que o Feirense não desça, ira ser fantástico para reavivar uma velha rivalidade. Será um equilibrar de forças entre as terras pelo futebol, que é o espelho e luz que ilumina o resto das coisas”, avisa.

“Com o Tirsense até houve tiros, com o Feirense era algo da esfera política, eles com o poder, nós subjugados”

Américo Teixeira Antigo jogador do Lourosa

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Corticeiro­s perto de garantirem a subida à Liga 2
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Jorge Pinto é o treinador do Lourosa

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