PC Guia

Bytes e octetos

- PEDRO ANICETO aniceto@mac.com

Eu vim de longe, como diz a canção. De muito longe. Quando iniciei a minha profissão, fi-lo -lo no final do período da computação mecânica.a Sim Sim, mecânica (eu disse que vim de longe…). Algumas das marcas do final da década de 70 ainda não se perderam ainda por completo no pó dos tempos: Burroughs, NCR, Honeywell Bull, dominaram durante muito tempo o mercado. Um grande número de leitores já suspirou ao ler “computação mecânica”. Antes de haver RAM já era necessário guardar dados. Acontecia em complexos sistemas de pinos e molas que ainda hoje me causa alguns calafrios recordar, de tão difíceis que eram de reparar. Quando os computador­es mecânicos começaram a ser substituíd­os pelos electromec­ânicos, as coisas melhoraram. Não muito. Como aprendiz passei um ano a conhecer o que eram ferrites e sobretudo como alterar o seu estado de um 0 para um 1. O inglês não tinha colonizado ainda a informátic­a, os bytes chamavam-se octetos e tudo se passava por acção de um fio de cobre que era passado dentro e fora das ferrites. Arqueologi­a. Os sistemas tinham capacidade­s de memória de 8 K de RAM. Só contas bancárias mais gordas alcançavam 16 K. Programava-se. Um mês para programar um registo num ficheiro sequencial.

Só uma década depois os ficheiros sequenciai­s veriam a luz do dia. Faziam-se “milagres” com cobre e ferrite. Programas bancários, de facturação, de salários, fazia-se tudo, bit a bit, com uma paciência de Job. Era o state of the art da época. Em papel primeiro, depois compilar, testar, detectar erros, muitos dias eram empregues na concepção de uma única rotina. Foram precisos alguns milhares de metros de cobre cortado em pedaços de 80 centímetro­s para que viesse eu mesmo a conseguir produzir o meu próprio software, rudimentar, que me ajudaria a controlar ua coleção Vampiro. Se hoje sou um informátic­o devo-a a esse tempo. Tudo o que aprendi teve como professor um homem que me mostrou um label, um bit, cartão perfurado e o cobre. O homem que me mostrou como começar esse caminho, morreu há dias aos 91 anos. «Oh Pedro, mas há gajos que programam vírus?». Obrigado Gastão Ferreira. Até sempre!

O inglês não tinha colonizado ainda a informátic­a, os bytes chamavam-se octetos (...)

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