O Ricardo Durand diz que foi um «youtuber antes do tempo», no início do milénio.
Às vezes, em brincadeira junto de amigos, costumo dizer que fui youtuber antes do tempo. Só tive o meu primeiro computador em 2000, onde uma webcam VGA da Creative se aliava a um microfone de mesa, de marca branca, ao serviço deste imberbe produtor de conteúdos. No Windows Me, e mais tarde no XP, corria o Movie Maker que chegava e sobrava para as encomendas. Eu e um amigo, inspirados pelos acontecimentos diários, ou pelos sketches do Herman Enciclopédia, gravámos alguns vídeos, daqueles ainda hoje que se parecem com a «língua inglesa», dos Clã: «Não atraiçoa ninguém». Na altura, difundir as nossas criações era, e não era, um problema. Passo a explicar: se por um lado não havia qualquer plataforma onde pudéssemos publicar as obras, por outro também não sentíamos necessidade disso. Nunca me lembro de ter dito qualquer coisa como «o que era bom era existir um site para publicar estes vídeos todos», porque quando o queríamos fazer mandávamos um e-mail ou partilhávamos pelo MSN Messenger. Hoje, escusado será dizer, que a fama está online, seja a mostrar um jogo com comentários em directo, a engolir canela como se fosse água ou a pregar partidas (o chamado ‘trolar’) aos amigos. Fazer aquilo de que se gosta, sem ser, efectivamente um trabalho, e ainda ganhar alguns milhares de euros com isso é ouro sobre azul. Apesar de as minhas referências no youtube estarem todas lá fora (Casey Niestat, Chris Stuckmann, Marques Brownlee, Key & Peele), Portugal também está cheio de exemplos de sucesso, que mostram muita criatividade e resiliência. Quer se goste ou não do estilo, e eu tenho muitas reservas em relação a isso, não me custa nada reconhecer o esforço e a qualidade de muitos youtubers portugueses. Até porque, com as devidas diferenças, já passámos todos pelo mesmo.