O fim da inocência

As redes sociais assumiram as funções de partilha de opiniões e de publicações do foro pessoal, como se fossem palanques universais para aspirantes a comentadores ou consultórios para a megalomania.

Um dos blogs que sigo há anos anunciou que ia fechar. Não é a primeira vez que o autor diz que vai fazer isso, mas parece que é desta, porque a empresa que lhes aloja as imagens exige um pagamento anual de quatrocentos dólares para as manter online. Como o blog não é para fazer dinheiro, parece que vai ficar por ali. A blogosfera, como espaço virtual de expressão pessoal ou iniciativa privada, habitada por pessoas que gostam de falar de temas específicos sem interesses comerciais, é uma sombra do que foi. As redes sociais assumiram as funções de partilha de opiniões e de publicações do foro pessoal, como se fossem palanques universais para aspirantes a comentadores ou consultórios para a megalomania. Já ninguém é blogger: é instagrammer ou youtuber ou storyteller. E o objectivo é vender-nos alguma coisa. Há dias revi o meu próprio blog e, não sendo nada dado a essas coisas, deu-me para a nostalgia. Foi a partir dali que consegui abrir portas para o meu percurso profissional mas, na altura, o ruído era menor. Hoje não sei como faria para mostrar o meu trabalho e partilhar os meus pontos de vista (até sei, mas se quiserem saber também, têm de pagar - viram o que fiz aqui?). Temos plataformas dedicadas para publicar textos, como o Medium, mas não me convencem, e a estratégia de promoção tinha sempre de ser concertada com as redes sociais. Estão a ver? “Estratégia de promoção”. Não há pureza nenhuma nisto. Não me interessa regressar à idade da inocência da web, mas tenho pena de ver alguns blogs desaparecerem. Estou até a pensar começar uma publicação dedicada ao valor da informação. Mas sem fins comerciais, porque a informação parece valer muito pouco hoje em dia.