QUEM É O NERO DE PORTUGAL?
Actualmente, há smartphones com chips biónicos e neurais que fazem essas coisas espantosas (e claramente inúteis) que são desbloquear o sistema com a leitura da cara ou reconhecer se estamos a fotografar comida ou gatinhos. Hoje, já conseguimos evitar filas de trânsito e ir por caminhos alternativos, para não perder tempo nos engarrafamentos; até podemos ver quais são as horas de maior afluência num centro comercial. Os relógios sabem quando estamos sentados, a dormir, a nadar, a acasalar e até nos avisam se o nosso ritmo cardíaco fugir à normalidade. Mas, quando o assunto é usar tecnologia para ajudar a gerir catástrofes naturais, fica tudo igual à Roma que Nero mandou (supostamente) queimar. Os pinhais e eucaliptais parecem as insulas, casas de madeira, onde vivia o povo. Só resta saber quem é que toca a lira enquanto o fogo nos consome. Os drones de 600 euros que servem para os youtubers fazerem umas palhaçadas não podiam também fazer uma patrulha nas áreas mais críticas para detectar focos de incêndio? A tecnologia que serve para detectar o raio da nossa íris e fazer uma vídeochamada com filtros e orelhas de cão não pode ser usada para as autoridades comunicarem com mais eficácia? Já existem pequenos robots da Disney que obedecem aos comandos que damos pelo smartphone, mas os carros de bombeiros são como em 1920: tem um tanque de água e umas mangueiras. Os nossos soldados da paz parecem que andam mascarados e não com equipamento de ponta para aguentar o combate ao fogo. Onde andam os sensores, os smart suits e os capacetes com realidade aumentada? Não, o melhor é dedicar a inovação tecnológica para conseguirmos tirar uma fotografia com a câmara da frente e a de trás ao mesmo tempo ou para pôr uma porcaria de uma mobília digital na sala. Pão e circo. Dois dias, cem mortos, sem meios e com uma promessa: «Isto vai voltar a acontecer», promete António Costa. Com a sua lira a tocar em pano de fundo, claro.