A NEUTRALIDADE JÁ NÃO EXISTE!
Num mundo perfeito, todos os clientes de um Internet Service Provider teriam acesso igual a todos os serviços online que quisessem usar, presentes e futuros. Mas, com o crescimento exponencial da quantidade de clientes e com a relutância em fazer investimentos, muitos ISP recorrem a estratagemas para, como se costuma dizer, meter o Rossio na Rua da Betesga. Ou seja, conseguir ter mais clientes online sem ter de redimensionar a infraestrutura. O mais comum desses estratagemas chama-se traffic shaping e consiste em limitar a velocidade de acesso, independentemente do que está contratado, recorrendo a várias métricas, como a quantidade de clientes que estão online num determinado momento ou se o cliente estiver a um determinado serviço, como por exemplo a fazer um download mais ou menos “legal”. Isto passa-se há anos. Percebo que os ISP, como empresas que são, têm de dar lucro, ou, pelo menos, não dar prejuízo, mas isto é quase como ter uma ligação eléctrica em casa mas não poder usar o frigorífico quando o meu vizinho está a ver televisão porque a intensidade da corrente não dá para os dois ao mesmo tempo. Mesmo assim, na Europa, há algum tipo de regulação que impede os ISP de irem ao ponto de limitar mesmo o acesso a determinados serviços, principalmente se forem concorrentes dos seus próprios. Mas nos EUA, a administração Trump quer mesmo acabar formalmente com a neutralidade através do desmantelamento, por parte o seu regulador das comunicações, das leis de neutralidade da Internet do tempo de Obama. Temo que esta medida possa vir a ter repercussões noutras partes do mundo e assim limitar o acesso à informação e colocar um forte travão no progresso tecnológico.