Maribel Miranda Pinto, docente e investigadora, responsável pelo projecto Kids Media Lab, é a entrevistada deste mês.
O QUE A LEVOU A QUERER APROXIMAR EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA?
Sempre gostei de tecnologia e, durante a licenciatura, não conseguia perceber por que razão em quatro anos de curso apenas uma unidade era dedicada a este tema. As crianças têm acesso a todo o tipo de tecnologia em casa. Por que é que o colégio não a usa também para trabalhar os antigos conceitos de uma forma nova? Assim, foquei os meus trabalhos de pós-graduação e de doutoramento nessa aproximação. O primeiro estava mais dirigido à formação de professores. O professor poderia ser o fio condutor desta aproximação.
COMO FOI A RECEPTIVIDADE A NÍVEL DOS PROFESSORES?
Encontrámos de tudo, desde aqueles que, por falta de conhecimento, tinham receio de que os alunos tivessem mais competências do que eles até os mais interessados. Mesmo assim, entre os interessados, houve quem não quisesse pôr em prática o que aprendeu na formação, pois acreditavam que dava muito trabalho transmitir de uma nova maneira conceitos tradicionais, como é o caso da lateralidade, a noção de espaço, o pôr-se no lugar do outro, entre outras competências trabalhadas nestas idades. Acho que vale a pena o trabalho que dá, pois vamos colher os frutos mais adiante.
O SEGUNDO PROJECTO É O KIDS MEDIA LAB, QUE RECEBEU O PRÉMIO INTERNACIONAL ‘INNOVACIÓN EDUCATIVA CON TIC’, ATRIBUÍDO PELA ASSOCIAÇÃO ESPANHOLA PARA O DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS EDUCATIVAS - EDUTEC?
Sim. É um projecto mais voltado para as crianças. Trabalha a iniciação à programação e à robótica em idade pré-escolar. Mas não é uma coisa à parte do trabalho feito na escola, está integrado no currículo. Ajuda a consolidar aprendizagens e competências que as crianças têm de desenvolver nessas idades com outras ferramentas. É uma forma mais criativa e envolvente de bordar os conceitos tradicionais. Os pais fazem também parte do trabalho. Reunimo-nos com eles com o objetivo de esclarecer e mostrar o que vamos fazer. Transmitimos a importância da tecnologia como ferramenta pedagógica e não apenas como uma forma de entretenimento. Tentamos que percebam que não é só dar equipamentos e deixá-los soltos nas mãos das crianças ou de simplesmente controlar-lhes o tempo. É preciso que saibam o que estão a fazer.
O UNIVERSO DO PRÉ-ESCOLAR É MUITO FEMININO. COMO FOI A ADESÃO POR PARTE DAS EDUCADORAS?
Já demos formação a mais de 160 educadores, praticamente mulheres, na totalidade. Penso que houve apenas um homem nas nossas acções de formação. A grande maioria dessas educadoras está na faixa etária acima dos trinta anos. Parte da formação era à distância e a outra parte presencial. Muitas, no início, assustaram-se, mas adoraram a metodologia e terminaram muito satisfeitas. Que tipo de equipamentos usam nas escolas? Precisamos de robôs, tablets, câmaras fotográficas. Inicialmente usava alguns robôs adquiridos no Reino Unido e nos Estados Unidos, mas eram caros e isso limitava a nossa acção. Através de uma reportagem numa rádio, a marca Clementoni soube do projecto e apoiou-nos com recursos adequados. Assim, introduzimos o DOC, um robô recém-lançado pela marca, como ferramenta de apoio. Desta forma, conseguimos chegar a mais escolas.
É investigadora na Universidade do Minho e docente na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viseu. Sempre acreditou que educação e tecnologia deviam andar de braços dados e está à frente do único projeto a nível nacional vocacionado para levar a robótica, a programação e o pensamento computacional às crianças ao nível do ensino pré-escolar, o Kids Media Lab.