/ DEFEITOS ESPECIAIS

O Ricardo Durand fala sobre a personalidade do ano para a revista Time, Greta Thunberg.

Greta Thunberg. É esta a personalidade do ano para a revista Time. A messias ambiental, a paladina da ecologia, a pirralha de Bolsonaro, a happy kid de Trump, a navegadora verde que se recusa a andar de avião porque os motores dos Boeing e dos Airbus são demasiado poluentes. Numa coisa temos de concordar - a miúda é coerente. Bem, no que ao ambiente diz respeito, sim (contando que não esconde uma dupla vida obscura em que usa palhinhas de plástico para beber Coca-Cola), mas quando acusa os líderes mundiais de estarem a roubar a sua infância e de terem destruído os seus sonhos, a doutrina divide-se. Esta Madre Teresa de Calcutá ambientalista está, na verdade, a roubar a sua própria infância e a destruir os seus próprios sonhos: uma miúda normal de dezasseis anos anda a viajar pelo mundo a dar nas orelhas aos adultos? Se calhar, na Suécia, o conceito de infância é um bocado distópico - provavelmente, as crianças que sobem a bordo de cascas de noz com os pais para atravessar o Mediterrâneo e encontrar uma vida melhor na Europa é que estão a viver, à brava, a infância; as que sofrem com guerras civis na Líbia ou na Síria também podem ter aqui uma palavra a dizer. A evolução da consciência ambiental é irónica: nos anos oitenta, havia desenhos animados para crianças que nos mostravam que o planeta estava a sofrer com a poluição e que nos ensinavam a ser amigos dos animais, dos mares e das florestas - lembram-se do Capitão Planeta? Agora, temos uma criança a sério que nos avisa disto todos os dias na televisão. A Greta é uma espécie de ‘planetária’ mas com os anéis todos numa mão - resta pensar naquilo que podia acontecer se conseguisse dar um estalo, com os dedos...