/ Este mês, o André Paula reflecte sobre os efeitos negativos do uso massivo das redes sociais e como a escolha de ferramentas open source pode ajudar a minimizá-los.
O uso das redes sociais é tão comum, que passar um dias sem elas é impensável. Temos de pensar nos efeitos negativos que uso massivo de ferramentas sociais tem e como a escolha de ferramentas open source pode ajudar a minimizar esses efeitos.
Encontrar amigos de infância, grupos de pessoas que partilham dos mesmos gostos, obter respostas a questões técnicas, partilhar o que quiser, vender produtos - é grande, a lista é grande de coisas que se podem fazer numa rede social. Passou a ser o novo ponto de encontro para o mundo e isso, de alguma forma, dá uma falsa sensação de liberdade, porque se por um ladom estamos onde “todos” estão, por outro, como sociedade, parece que passamos cada vez mais afastados e em realidades diferentes, cada um na sua. O que pode estar causar esta situação? É verdade que é um tema abrangentem mas vamos apontar para duas razões.
QUEM DESENVOLVE OS SERVIÇOS
As grandes empresas competem pela nossa atenção e o objectivo é criar ferramentas que causem dependência. Desta forma, a sua utilização massiva gera lucro a essas empresas e a quem os financia por meio de publicidade, direccionando conteúdo que se encaixe no comportamento de cada um, criando um mundo individualista.
O efeito de pequenas doses de estímulos diários liberta dopamina, um neurotransmissor que, quando activo, provoca sensação de prazer, regula o humor, tem influencia nas emoções e na atenção. Ser recompensado diariamente cria dependência e isso está, claramente, a toldar a percepção das coisas; os efeitos a longo prazo são negativos - segundo um artigo do jornal online Huff Post (Slaves to dopamine and the hijacking of our
brains - bit.ly/3grjVXj), a dopamina produzida pelos comportamentos dominantes, «sobrepõe-se ao funcionamento normal do cérebro, como que assumindo o controlo ou sequestrando-o». Este sequestro diário é bem evidente em O Dilema das Redes Sociais da Netflix, que mostra testemunhos de ex-funcionários da Google e Facebook, bem como de outras pessoas, como Aza Raskin, que trabalha na Mozilla e tem uma das frases mais fortes do documentário: «Os publicitários pagam os produtos que usamos, eles são os clientes, nós somos a coisa que é vendida». Quem desenvolve estas ferramentas estuda os comportamentos humanos, as necessidades sociais e prepara-as para obter lucro, porque nos torna dependentes.
OS NOSSOS COMPORTAMENTOS
A liberdade de partilhar conteúdo que as redes sociais dão está tão facilitada, que qualquer empresa ou indivíduo com segundas intenções consegue espalhar facilmente uma informação falsa.
O comportamento social da busca constante de informação criou um défice de atenção para com o conteúdo, porque o espírito crítico está a desaparecer. Cada vez menos tempo se perde a ler e a questionar: a fonte da informação, quem escreveu, a intenção, etc. De forma gradual, e quase que invisível, isto tem promovido cada vez mais a polarização, a segregação de grupos com os mesmos ideais, todos a viver mais tempo numa realidade virtual só sua. Talvez se recorde do filme Truman Show e de uma cena bastante conhecida, em que Christof foi questionado pelo facto de Truman nunca ter chegado perto de descobrir a verdadeira natureza do mundo onde vivia. A resposta foi: «Aceitamos a realidade do mundo que nos é apresentado. É tão simples como isso». A aceitação do actual padrão social é tão forte que parece não existir alternativa senão aceitar. Mas há algumas coisas que podemos fazer para ter um maior controlo sobre a tecnologia, as redes sociais e a informação que consome.