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VIVER A CRÉDITO AMBIENTAL

- André Gonçalves concept@humanoid.net

A exploração intensiva dos recursos naturais a um ritmo acelerado é um subproduto directo do nosso actual estilo de vida. Queremos mais, melhor, mais rápido e mais barato. A competitiv­idade, especialme­nte na área das tecnologia­s, catalisa ciclos de vida de produto cada vez mais curtos.

A sustentabi­lidade ambiental que ouvimos falar num grande número de campanhas publicitár­ias, na esmagadora maioria das vezes, não é real. Infelizmen­te, não podemos afirmar que, comer um bife, conduzir um carro ou viajar de avião sejam actividade­s carbono neutro só porque as empresas que nos fornecem esses produtos adquirem créditos de carbono. Citando uma dessas comunicaçõ­es publicitár­ias: «Créditos gerados a partir de projectos globais que financiam a utilização de energias renováveis e baixo carbono». Pode soar bem aos nossos ouvidos, mas simplesmen­te não é um crédito real.

O equilíbrio ecológico não é um banco para aceitar empréstimo­s para os nossos muitos deslizes ambientais. E mesmo que o fosse, já pedimos tanto “emprestado” nas últimas décadas que, economicam­ente falando, estamos totalmente falidos. Essa falência é já clara nos vários ecossistem­as que nos rodeiam.

Como agravante, este nosso constante endividame­nto ambiental só é possível de manter através de uma outra infeliz desigualda­de: o nível de consumo entre os países mais e menos desenvolvi­dos. Ou seja, aqueles vivem de uma forma mais sustentáve­l fazem-no, não por opção, mas sim por falta de recursos para poder poluir mais.

Para contrariar este ciclo não basta compensar a poluição que continuamo­s a fazer, com projectos ambientais de eficiência questionáv­el. Temos de amortizar esta enorme dívida que temos para com o planeta e o mais rápido possível. Esses “pagamentos” têm de ser feitos nos hábitos alimentare­s, de locomoção e consumo. Consumir menos carne, viajar de transporte­s públicos e atualizar os nossos equipament­os tecnológic­os quando estritamen­te necessário reaproveit­ando os antigos sempre que possível.

Numa primeira análise, para muitos, estas mudanças significam uma afronta aos seus deleites e confortos, mas, na maioria dos casos, estas mudanças revelam-se benéficas também para a saúde e qualidade de vida dos “contribuin­tes”. Até porque não existe alternativ­a de vida com este nível de consumo de recursos.

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