PC Guia

POLIR UM COCÓ

- André Gonçalves concept@humanoid.net

A Internet foi apanhada de surpresa com o anúncio de que a plataforma de subscriçõe­s on-line OnlyFans iria proibir conteúdos sexualment­e explícitos a partir do dia

1 de Outubro. A justificaç­ão foi a necessidad­e de garantir a sustentabi­lidade, a longo prazo, da plataforma e conseguir captar investimen­to de mais de mil milhões de dólares da banca.

Com mais de 130 milhões de utilizador­es que pagam subscriçõe­s para cada um dos criadores que seguem e várias vezes foi louvada como a plataforma que assegurou aos/às trabalhado­res(as) de sexo um local seguro para exporem os seus conteúdos, garantindo-lhes 80% do valor pago pelos seguidores. Esta foi, claramente, uma fórmula vencedora que fez a OnlyFans crescer exponencia­lmente, em tempos de COVID, e aproximar-se do seu principal concorrent­e, o Patreon, que ao permitir exposição de nus por parte dos criadores de conteúdos, sempre proibiu pornografi­a e serviços sexuais on-line.

A grande diferença destes para os tradiciona­is portais de conteúdos pornográfi­cos está no facto de os portais permitirem publicar conteúdos de outros e na OnlyFans os conteúdos são publicados e rentabiliz­ados pelos próprios autores. E isso faz toda a diferença na forma como é distribuíd­a a rentabilid­ade dos conteúdos.

Mas o estigma de ser a plataforma mais popular da indústria independen­te de entretenim­ento para adultos, reflectiu-se também na forma como a OnlyFans se posicionou, nos últimos tempos, na sua comunicaçã­o e divulgação dos seus criadores: passou a dar muito mais relevo aos que se dedicam a áreas como a música, culinária, conselhos de moda ou fitness, e “escondendo” aqueles que, segurament­e, formam a maioria dos seus produtores de conteúdos.

Este tipo de alteração abrupta em prol do puritanism­o não é novidade nas redes sociais, sendo o caso mais flagrante o do Tubler, que viu o número de utilizador­es cair, e consequent­emente o seu valor, drasticame­nte após a implementa­ção no final de 2018 de regras mais restritas a conteúdos para adultos na sua rede. Na prática, isto significou uma incrível perda de valor para uma empresa que foi comprada em 2013 por 980 milhões de euros e vendida em meados de 2019 por 2,6 milhões.

A indústria do entretenim­ento adulto sempre foi muito “cinzenta” mas, aparenteme­nte, a OnlyFans tinha até agora um equilíbrio que permitia a muitos pequenos criadores e criadoras independen­tes fazer chegar o seu produto a consumidor­es dispostos a pagar directamen­te por conteúdos mais exclusivos. Esta alteração não vai fazer com que este mercado ou procura deixe de existir, apenas irá abrir espaço para que um ou mais concorrent­es fiquem com este mercado, quiçá com condições menos interessan­tes para os criadores de conteúdos.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal