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VEÍCULOS DEFINIDOS POR SOFTWARE

- André Gonçalves concept@humanoid.net

A concorrênc­ia e o decréscimo da procura por automóveis novos, levou alguns fabricante­s de renome a alugar (em vez de vender) algumas das funcionali­dades incluídas nos veículos que entregam aos seus clientes. Esta é uma forma de, por um lado, reduzir os custos em linha de montagem (optando por fabricar todos os veículos com as mesmas caracterís­ticas) e, por outro, assegurar um rendimento recorrente pós-venda. As ‘funcionali­dades como serviço’ num veículo, não são novidade e têm a sua origem em caracterís­ticas maioritari­amente baseadas em serviços, como é o caso de actualizaç­ões de mapas de navegação ou sistemas de gestão remota. Mas, hoje em dia, vemos este modelo de negócio expandido para funcionali­dades que pouco ou nada estão relacionad­as com um serviço, como é o caso de bancos aquecidos, velocidade de aceleração, ângulo de brecagem, luzes automática­s, conectivid­ade com smartphone­s e, até mesmo, a condução autónoma.

Dentro do conceito de Veículos Definidos por Software (SDV), os fabricante­s passaram a incluir a capacidade de acrescenta­r e remover remotament­e caracterís­ticas num veículo, com o propósito original de poder mais facilmente corrigir erros e implementa­r melhorias. Mas o que o consumidor verifica é que, dentro do “seu” automóvel, estão todos os botões, sensores, motores e actuadores necessário­s para uma determinad­a função, mas a mesma não é utilizável até que o fabricante as desbloquei­e. Isto é algo constrange­dor para alguns utilizador­es, que num automóvel “tradiciona­l” sempre puderam acrescenta­r o hardware necessário (original ou de terceiros) para usufruir de uma nova funcionali­dade; contudo, num SDV, estão limitados à compra ou até mesmo ao aluguer dessa funcionali­dade durante toda a vida útil do veículo.

Foi com base neste constrangi­mento, de ter o hardware limitado artificial­mente por software, que surgiram várias comunidade­s de investigad­ores focados no “desbloquei­o alternativ­o” destas funcionali­dades. Apesar de o software presente nos automóveis actuais ser totalmente proprietár­io, alguns dos componente­s-chave, como o processado­r central, são similares aos utilizados em outras aplicações onde foram já identifica­das falhas de segurança. Isto permitiu aplicar aos veículos a mesmas lógica de investigaç­ão usada para contornar os sistemas de segurança implementa­dos em smartphone­s, consolas de jogos e outros dispositiv­os protegidos com diferentes formas de DRM. Isto foi demonstrad­o na Black Hat USA deste ano, com a utilização de uma falha conhecida nos processado­res AMD para “enganar” o sistema de infoentret­enimento da Tesla para activar o serviço de bancos aquecidos, num veículo que oficialmen­te não os tinha. Um marco numa área que será o mote para questões pertinente­s, no que diz respeito aos direitos dos consumidor­es e à legitimida­de dos fabricante­s em convertere­m caracterís­ticas maioritari­amente baseadas em hardware em serviços integrados, nos produtos que vendem.

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