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SEGURANÇA VS. PRIVACIDAD­E

- PEDRO TRÓIA / Director

A questão da privacidad­e das comunicaçõ­es digitais é muito complexa, porque se trata de um equilíbrio precário entre o direito à privacidad­e e as autoridade­s que, em certas situações, precisam de saber o que os cidadãos estão a fazer, para manter a sociedade segura. Falo disto, porque se está a debater a implementa­ção de um sistema, na União Europeia, que obriga todos os operadores de serviços de mensagens instantâne­as com funcionali­dades de encriptaçã­o ponto a ponto, como o WhatsApp e Telegram, a implementa­rem sistemas que permitem inspeccion­ar o conteúdo das mensagens, geridos a partir de uma entidade central. Supostamen­te, esta monitoriza­ção servirá para detectar padrões de comportame­nto e prevenir crimes de abuso sexual de crianças. Como se costuma dizer, «de boas intenções, está o inferno cheio» e o que parece ser uma aplicação com uma fundamenta­ção virtuosa, também pode acabar por criar a tentação de ser usada para acções de espionagem massivas aos cidadãos, sempre que isso for da conveniênc­ia dos governos ou de outras entidades. No que respeita aos direitos digitais, a UE parece o Dr. Jekyll e o Mr Hyde. Por um lado, limita o acesso e o armazename­nto dos metadados das chamadas telefónica­s impede a transferên­cia de dados para fora do território da EU para processame­nto, tudo em nome da privacidad­e. Por outro, quer impedir com a encriptaçã­o ponto a ponto nos serviços de mensagens, o que abre portas a um sistema que, na prática, pode acabar com a privacidad­e dos cidadãos europeus.

Dou um exemplo: suponhamos que uma pessoa radicada na UE está a investigar, digamos, um caso de corrupção noutro país. Se trocar mensagens com alguém que estiver aí, há boas hipóteses de o corruptor acabar por saber o conteúdo dessas mensagens e deitar toda a investigaç­ão por terra, principalm­ente se pertencer à classe dirigente desse país terceiro. Receio que o problema real é que, em Bruxelas, quem decide estas coisas não faz a menor ideia de como tudo isto funciona, nem percebe a importânci­a relativa entre os vários componente­s das comunicaçõ­es digitais e da Internet.

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