Record (Portugal)

“É PENA PORQUE PODIA ESTAR NO SPORTING...”

Seis anos depois de ter deixado Alvalade pela porta pequena, mete a mão na consciênci­a, promete não repetir erros cometidos e aproveita a boleia de Record para enviar mensagem especial... a Paulo Bento; “Desculpe, míster!”

- ANTÓNIO ADÃO FARIAS

Seis meses depois, sente que o Chaves foi a escolha certa? Mesmo não tendo jogado sempre? SIMON VUKCEVIC – Escolhi bem.

Não esperava jogar mais? Só esteve em 10 dos 21 jogos…

SV – Esperava. Mas não quero repetir os mesmos erros que cometi no Sporting. Prefiro não jogar tanto e ter um comportame­nto melhor. Aliás, muito melhor do que tive no Sporting. Já tinha dito ao primeiro míster [Jorge Simão]: posso jogar um minuto, dois, três, ir para o banco… O treinador é que sabe. Estou cá para trabalhar e fazer o melhor que sei.

É essa a grande diferença entre o Vukcevic que os portuguese­s conheciam e este que agora regressou a Portugal?

SV – Tenho pena pelo meu mau comportame­nto durante o tempo em que estive no Sporting… Prejudicou-me muito. Poderia ter sido muito mais como pessoa e depois como jogador. Tinha muita paixão pelo jogo, mas também cometi muitos erros por causa dessa paixão. Agora, prefiro esquecer tudo isso. O futebol está aqui, talento tenho eu. Só preciso de tempo, jogos, tudo isso… Estou aqui só para ajudar. Prejudicar? Não quero!

Então o que lhe faltou?

SV – Faltou Deus! Faltou trocar de cabeça. Completame­nte...

Está com 30 anos. Onde pode chegar este ‘novo’ Vukcevic?

SV – Não sei… Penso dia a dia. Há dois dias tive muitas dores, uma infeção atrás do dente [que o im- pediu de defrontar o Sporting no sábado]. Comecei a pensar que o importante é ter saúde. Passado e futuro são construído­s com o presente. Jogamos até nos quererem; quando não me quiserem, arrumo as botas e pronto [gargalhada]... Estes dias são precisamen­te de reencontro com o passado…

SV – Pois são [fecha o rosto]. Tenho pena porque podia estar no Sporting neste momento…

É isso que sente?

SV – Hoje seria um jogador mais inteligent­e, mais agradecido a Deus – que eu tinha Deus só que ainda não sabia… Mas já passou… Não é comparável mas sinto-me mais leve agora. Tinha tudo o que a gente pensa que tem nesta vida. Era tudo falso! A vida é o momento.

Então Paulo Bento tinha razão?

SV – [desvia o olhar, sorri] Sem dúvida! Ainda não o encontrei para lhe pedir desculpa e agradecer-lhe porque ele quis ajudar-me muito! Agora ele vai ler e vai saber [sorri]. Peço-lhe desculpa…

[inclina-se para o gravador como quem fala diretament­e]

SV – Desculpe, míster! Ele foi muito bom para mim! Quis ajudar-me. [Faz uma pausa, respira fundo]… No lugar dele, não dava qualquer hipótese a alguém como eu - só por causa do meu comportame­nto! Mas ele deu-me oportunida­des, deu, deu e deu e voltou a dar...

Com tanta coisa má, como é que continua a ser um jogador especial para os sportingui­stas? SV –Dava sempre tudo em todos os clubes por onde passei. Tudo! Não podia deixar a bola sair sequer!

Eis a famosa luxação no ombro por tentar evitar que a bola saísse pela lateral quando o Sporting já ganhava 2-0 com golos seus...

SV – Eu era assim. E ainda sou. Isto é meu trabalho!

E se o Sporting voltasse a falar consigo?

SV – Não digo que não; se acontecer, farei a minha parte. Só não quero entrar naquela do ‘vamos lá morrer por causa disto’… Não estamos na Primeira Grande Guerra Mundial, nem na Segunda. Nem sabemos o que é e falamos disso tão fácil. Fala-se do futebol como se fosse a guerra… *

“PODIA TER SIDO MAIS PESSOA E MAIS JOGADOR. FALTOU DEUS, FALTOU TROCAR DE CABEÇA. COMPLETAME­NTE...”

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VUKCEVIC
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