Record (Portugal)

O impacto de Mozer no futebol português

- CENTRAIS DO MUNDO

Benfica regressava a Aarhus (Dinamarca) depois de lá ter feito escala, em 1961, a caminho de Berna, onde conquistar­ia a primeira Taça dos Campeões Europeus. Com a comitiva encarnada viajavam a incerteza e a desilusão de um início de época desolador, personific­ado por Ebbe Skovdahl, que substituír­a John Mortimore, após a dobradinha do inglês em 1986/87. Os encarnados estavam em fase de transição e muita da esperança estava depositada em Mozer, o central oriundo do Flamengo que já conhecia o peso do manto sagrado que era (e é) a camisola do Brasil.

SÓ AO FIM DE 5 OU 6 MESES PÔDE CUMPRIR O DESTINO: SER UM DOS MELHORES NA VÉSPERA DE UM JOGO EM AARHUS (1987), TONI RENDIA-SE AO TALENTO DO CENTRAL MAS PERGUNTAVA: “QUANTOS PENÁLTIS NOS VAI ELE CUSTAR ATÉ AO FIM DA ÉPOCA?”

Mozer teve impacto instantâne­o no futebol português. Era um central alto, com porte físico im- pressionan­te, forte, rápido, implacável nos duelos individuai­s, contundent­e por terra e ar, que reagia como um relâmpago a toda e qualquer desvantage­m perante os adversário­s diretos. Começou por formar com Dito uma das melhores duplas de centrais do Benfica, que valeu um feito impression­ante na edição da Taça dos Campeões de 1987/88: a águia sofreu apenas um golo em oito jogos – frente ao Anderlecht, por Arnor Gudjohnsse­n, de livre direto.

Na Dinamarca, antes do jogo, em outubro de 1987, Toni mostrou-se rendido ao potencial do jogador, concordou com todos os elogios mas levantou uma reser- CRAQUE. Foram precisos alguns meses para que Mozer conjugasse talento superior e físico impression­ante às exigências táticas do futebol europeu

va: “Ainda não entendeu os princípios do futebol na Europa e, na dúvida, bate. Quantos penáltis nos vai ele custar até ao fim da época?” Não foi preciso esperar muito: nos últimos minutos do jogo com o Aarhus, no dia seguinte, Mozer parou diante do adver-

sário sobre a esquerda da grande área; o avançado arrancou, desviou-se e sofreu um toque. Resultado: penálti. Acompanhei as dificuldad­es iniciais de Mozer na abordagem aos parâmetros de referência do futebol europeu. “Por vezes não percebo o que o

Toni me diz e, no jogo, sigo o instinto”, reconhecia, preocupado. Só ao fim de cinco ou seis meses assimilou a mensagem. Só então estava preparado para assumir, sem hesitações, o que o destino lhe reservara: ser um dos melhores centrais do seu tempo.

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