Record (Portugal)

MORREU O ‘MESTRE’ MANUEL OLIVEIRA 1932-2017

Faltou-lhe um grande e a Seleção. Mesmo assim mostrou o talento como estratega inigualáve­l

- RUI DIAS

Faleceu Manuel Oliveira, o último dos grandes treinadore­s portuguese­s que lideraram o futebol nos anos 60 e 70. Depois de Pedroto, Wilson, Juca, Meirim, Cabrita, Caiado, Carlos Silva e Medeiros, entre muitos outros, chegou a vez do mestre da tática, o eterno pensador do jogo, génio da conceção, homem fiel às suas convicções, figura que nunca se furtou à polémica e ao combate de ideias. Aos 85 anos, parte o general implacável que deixou marcas na quase totalidade dos jogadores que lhe passaram pelas mãos. Ao cabo de 617 jogos no currículo, manteve-se no ativo, satisfazen­do a eterna vontade de ensinar os mais jovens, incitando-os a aprender e a melhorar os conhecimen­tos. Era vulgar vêlo em reuniões de treinadore­s promovidas pelos clubes ou mesmo pela Associação Nacional dos Treinadore­s de Futebol (ANTF), em colóquios, palestras e em todos os espaços onde se discutia a sua grande paixão: o futebol.

Só nos últimos tempos da existência apaziguou os ímpetos e resguardou-se, vítima de problemas de saúde que o afastaram dos palcos onde se sentia como peixe na água. De qualquer modo, esteve sempre presente e próximo de antigos jogadores que herdaram dele o prazer do treino e do jogo.

A CUF como referência

Feita a formação como jogador no Barreirens­e, seguiu para o Sporting, seu clube do coração, no qual coincidiu, como jovem promessa, com os eternos Cinco Violinos. “Passava horas a vê-los treinar, seduzido pela qualidade que tinham individual e coletivame­nte”, afirmava com a felicidade estampada no rosto, apesar de ter como ídolo Carlos Canário, o médio-direito dessa equipa extraordin­ária. Um dia mostrou um recorte de jornal que trazia na carteira: era um jornal da época em que um jornalista lhe chamava “novo Canário”, tais as semelhança­s entre ele o grande craque à volta de quem girava a grande formação leonina. Depois de passar pelo Atlético, consolidou a carreira ao serviço da CUF, clube no qual pendurou as botas em 1962/63, para ali dar iní- cio à atividade que, em abono da verdade, o notabilizo­u.

Grandes e Seleção

O currículo de Manuel Oliveira fala por si. Deixou marcas indeléveis na quase totalidade dos clubes que represento­u, pelos bons resultados das equipas mas também pela qualidade do futebol que praticavam. Como à esmagadora maioria dos generais da sua geração, não chegou nem a um grande nem à Seleção Nacional – só José Maria Pe- droto, Mário Wilson e Juca tiveram esse privilégio. Mestre da tática, permanente inovador nos sistemas que utilizava (tinha provas de que foi o primeiro português a utilizar o 3x4x3), terá lugar na história como um dos maiores expoentes do futebol nacional. E um dos principais responsáve­is pelo jogo na transição dos anos 60, a seguir aos Magriços, até à segunda metade da década de 80.

À família enlutada, Record apresenta sentidas condolênci­as. *

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PAIXÃO. Ao serviço de Gondomar (uma das últimas etapas da carreira) e Marítimo (que treinou com sucesso nos anos 70)
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