Record (Portugal)

“Antes de ser profissão, futebol é paixão”

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Teve o privilégio de jogar no River Plate e no Boca Juniors, o que não é para todos, jogou no campeonato italiano e esteve em três fases finais de Campeonato­s do Mundo. Ficou satisfeito com a carreira que fez?

CC – Bom, e ainda me roubaram a ida a mais umMundial [ndr: Daniel Passarella não o levou ao Mundial’98]… Poderia ter estado em quatro Mundiais e, de certa forma, essa é umaespinha que tenho atravessad­a. Mas, enfim, não dependia de mim e lamentavel­mente acabou por ser assim. Foi uma carreira muito bonita, apesar de tudo. Só quando terminei a carreira é que tomei consciênci­a daquilo que fiz e consegui.

Faria alguma coisa diferente se pudesse voltar atrás?

CC – Não sei, sinceramen­te. Porque é preciso ver-se a questão pelo seu lado mais importante. O futebol, antes de ser uma profissão, é uma paixão. Claro que é também muito bem recompensa­do economicam­ente, mas antes de qualquer outra coisa vem a paixão. Há profissões onde não existe paixão. No futebol, todos os jogadores são apaixonado­s pelo jogo. Todos. Não há ninguém que não seja. Portanto, estar a falar em voltar atrás e mudar coisas… Hummm, é difícil pensar assim quando acima de tudo está a paixão.

Mas, mesmo com essa paixão, a pressão também está sempre presente. Lidava bem com esse lado?

CC – A pressão era enorme, é verdade. Eutive a oportunida­de servir a seleção da Argentina durante 16 anos. E com tantos jogadores que há, com tanta competição entre eles, quando se consegue estar tanto tempo a um nível alto, é claro que se tem suportar muita pressão. Ainda para mais na Argentina, onde todos os anos surgem novos jogadores de grande qualidade. Não me posso queixar. Tive uma carreira bonita. Poderia ter sido melhor, mas foi o que foi.

Pelo que foi dentro e fora do relvado, as pessoas recordam-no hoje como um grande profission­al.

CC – Acho que sim. Tive alguns altos e baixos, mas isso têm todos. É como digo: não me queixo. Estive a um nível alto na seleção, estive em destaque no campeonato italiano, quando este era o melhor do Mundo, e joguei em vários Mundiais. Não se pode pedir muito mais do que isto. E, claro, também joguei no River, no Boca e noutros grandes clubes. É uma grande satisfação poder dizer isto e, na verdade, não me arrependo de quase nada.

Os adeptos argentinos vão sempre recordar o golo que marcou ao Brasil, na meia-final do Mundial’90. Em que lugar está no seu rankingde proezas?

CC – Há muitas coisas boas e, por isso, chateia-me que falem sempre no mesmo lance. Deve passarse a mesma com o Diego (Maradona) quando lhe recordam o golo aos ingleses… Percebo que o meu golo, por ter sido ao Brasil, seja mais valorizado pelos adeptos. É normal. Ainda há pouco tempo o meu filho esteve a ver os recortes dos jornais e das revistas da época. E, na verdade, eu guardo essas recordaçõe­s como se fossem ouro! Permite reviver tudo. Foi tão lindo ver as fotos das pessoas nas ruas de Buenos Aires a celebrar. O futebol é incrível. Só o futebol consegue isto. São coisas que vou recordar até ao último dos meus dias.

“SÓ QUANDO TERMINEI A CARREIRA É QUE TOMEI CONSCIÊNCI­A DAQUILO QUE FIZ E CONSEGUI”

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