Record (Portugal)

Vandalismo de fato e gravata

- DISCURSO DE MUITOS

Quando o mal acontece, todos lamentam. Todos repudiam. Todos emitem comunicado­s. Todos dizem não se rever nos comportame­ntos de violência. Soltam-se umas frases. Um conjunto de linhas baratas. E sai-se de cena. Pela porta das traseiras. A tentar que ninguém note.

Vasco Santos foi o vídeo-árbitro do Benfica- Belenenses. O mesmo que ajuizou mal a entrada de Eliseu sobre Diogo Viana. Uma decisão. Uma má decisão. E apenas isso. Assumiu o que viu, ou não viu, sem se esconder. O prédio onde vive, na cidade do Porto, foi vandalizad­o esta semana. Em forma de ameaça. De atirar pedras e fugir para semear o medo e abalar alguém que, no seu trabalho, tal como todos nós, tem boas e más decisões.

A TRAGÉDIA COMEÇA NO DOS QUE AGORA VÊM REPUDIAR E LAMENTAR

Mas de quem é a culpa? Dos que lá foram? Sim, principalm­ente. E de todos os outros que dizem repudiar e não se rever. De dirigentes, funcionári­os de clubes ou comentador­es afectos aos mesmos clubes que se dizem independen­tes. De todos aqueles que aproveitam o palco que lhes é dado para espalharem o ódio e incendiare­m as mentes mais fracas. E, sobretudo, de regulament­os, ou ausência dos mesmos, em que os castigos aplicados a dirigentes e afins não produzam efeitos práticos.

José Fontelas Gomes, presidente do Conselho de Arbitragem, disse tudo: “O discurso de ódio no futebol tem de parar de imediato. O Conselho de Arbitragem apela às autoridade­s públicas para que não esperem por uma tragédia para intervir.” Essa tragédia, infelizmen­te, já esteve mais longe. Começa no discurso de muitos que agora vêm repudiar e lamentar. No futebol português, o verdadeiro vandalismo veste-se de fato e gravata para se espalhar nos comunicado­s, e redes sociais.

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