NUNO DE SÃO JOSÉ UM MONGE EM MARROCOS
Num mosteiro em Midlet vive um monge cristão português. E vive em paz. Entre os muçulmanos
Barcelona, Berlim, Cabul, Damasco, Dikwa, Grand-Bassam, Istambul, Lahore, Madrid, Manchester ou Paris. Estas são algumas das cidades onde o radicalismo religioso levou a cabo centenas de ataques e provocou milhares de mortos. Hoje, o terrorismo atua inesperadamente e em qualquer local por mais seguro que este seja. Mas, felizmente, há excepções. Midelt é uma pequena cidade, de 50 mil habitantes, situada no Médio Atlas marroquino a uns 1.500 metros de altitude e a cerca de 200 km de distância de Fez. É aí que se encontra o Mosteiro de Nossa Senhora do Atlas. É aqui que vivem sete monges cistercienses (trapistas), em serena convivência com os habitantes muçulmanos. É o único local de vida contemplativa em todo o Maghreb. É, pois, uma excepção à intolerância que se regista por este Mundo fora. Hóspedes do povo marroquino, muçulmano quase na totalidade, estes monges pretendem essencialmente demonstrar que é possível a vida em paz entre os povos e as religiões. E foi também por isto que o Nuno deixou Lisboa, a família e amigos e se juntou a um espanhol, um irlandês, um canadiano e três franceses e se transformou no irmão Nuno de São José. Estes sete monges são os seguidores dos monges trapistas que viviam na Argélia, em Tibhirine, de onde nos anos 90 foram expulsos – e alguns massacrados – durante a guerra civil pós-independência. O Mosteiro de Nossa Senhora do Atlas mudou-se então definitivamente para o Reino de Marrocos e aqui se mantêm desde 2001. Em tempos, aqui viveram irmãs franciscanas que se ocupavam de um orfanato e de uma fábrica de bordados para as mulheres locais mas, hoje, o mosteiro apenas alberga os monges que aqui vivem em recolhimento.
Situado numa pequena colina, tendo como pano de fundo a grandeza do Atlas e a uns dez minutos de caminhada do moderno centro da cidade, o Mosteiro, para além dos aposentos destinados aos monges e das duas capelas, dispõe ainda de uma zona hoteleira, única fonte de rendimento dos monges cistercienses, onde se podem alojar umas dezenas de viajantes em determinados meses do ano por um período máximo de uma semana.
A via trapista remonta ao século V e impõe aos seus seguidores um isolamento quase total do Mundo e é assim que vivem: em recolhimento, em oração, em estudo. Como o Nuno, que abandonou a cidade e se recolheu no Mosteiro. Hoje, segue os seus estudos e para isso viaja até França três vezes por ano, durante uma dezena de dias. Com alguma regularidade, recebe visitas dos seus familiares mas, fora isso, raramente sai do mosteiro. Foi uma opção de vida, dissenos quando conversámos com ele, foi a troca de uma vida ‘stressante’ por uma vida de paz interior. Aqui não sente as necessidades impostas por uma sociedade consumista. Vive para Deus e para os Homens. Está ‘longe’ do Mundo, mas não está desligado dele. A sua tranquilidade é contagiante, mesmo para um não crente. A sua força espiritual impressiona. O medo não existe, apesar de rodeado por homens que têm outro Deus. O Mosteiro de Nossa Senhora do Atlas, os seus sete monges cristãos e os muçulmanos de Midelt provam que, apesar das diferenças, é possível viver em Paz!
A PEQUENA CIDADE DO MÉDIO ATLAS MARROQUINO SERVE DE RESPOSTA À INTOLERÂNCIA QUE GRASSA PELO MUNDO