Record (Portugal)

NUNO DE SÃO JOSÉ UM MONGE EM MARROCOS

- TEXTOS ELÁDIO PARAMÉS FOTOS ISABEL PARAMÉS

Num mosteiro em Midlet vive um monge cristão português. E vive em paz. Entre os muçulmanos

Barcelona, Berlim, Cabul, Damasco, Dikwa, Grand-Bassam, Istambul, Lahore, Madrid, Manchester ou Paris. Estas são algumas das cidades onde o radicalism­o religioso levou a cabo centenas de ataques e provocou milhares de mortos. Hoje, o terrorismo atua inesperada­mente e em qualquer local por mais seguro que este seja. Mas, felizmente, há excepções. Midelt é uma pequena cidade, de 50 mil habitantes, situada no Médio Atlas marroquino a uns 1.500 metros de altitude e a cerca de 200 km de distância de Fez. É aí que se encontra o Mosteiro de Nossa Senhora do Atlas. É aqui que vivem sete monges cistercien­ses (trapistas), em serena convivênci­a com os habitantes muçulmanos. É o único local de vida contemplat­iva em todo o Maghreb. É, pois, uma excepção à intolerânc­ia que se regista por este Mundo fora. Hóspedes do povo marroquino, muçulmano quase na totalidade, estes monges pretendem essencialm­ente demonstrar que é possível a vida em paz entre os povos e as religiões. E foi também por isto que o Nuno deixou Lisboa, a família e amigos e se juntou a um espanhol, um irlandês, um canadiano e três franceses e se transformo­u no irmão Nuno de São José. Estes sete monges são os seguidores dos monges trapistas que viviam na Argélia, em Tibhirine, de onde nos anos 90 foram expulsos – e alguns massacrado­s – durante a guerra civil pós-independên­cia. O Mosteiro de Nossa Senhora do Atlas mudou-se então definitiva­mente para o Reino de Marrocos e aqui se mantêm desde 2001. Em tempos, aqui viveram irmãs franciscan­as que se ocupavam de um orfanato e de uma fábrica de bordados para as mulheres locais mas, hoje, o mosteiro apenas alberga os monges que aqui vivem em recolhimen­to.

Situado numa pequena colina, tendo como pano de fundo a grandeza do Atlas e a uns dez minutos de caminhada do moderno centro da cidade, o Mosteiro, para além dos aposentos destinados aos monges e das duas capelas, dispõe ainda de uma zona hoteleira, única fonte de rendimento dos monges cistercien­ses, onde se podem alojar umas dezenas de viajantes em determinad­os meses do ano por um período máximo de uma semana.

A via trapista remonta ao século V e impõe aos seus seguidores um isolamento quase total do Mundo e é assim que vivem: em recolhimen­to, em oração, em estudo. Como o Nuno, que abandonou a cidade e se recolheu no Mosteiro. Hoje, segue os seus estudos e para isso viaja até França três vezes por ano, durante uma dezena de dias. Com alguma regularida­de, recebe visitas dos seus familiares mas, fora isso, raramente sai do mosteiro. Foi uma opção de vida, dissenos quando conversámo­s com ele, foi a troca de uma vida ‘stressante’ por uma vida de paz interior. Aqui não sente as necessidad­es impostas por uma sociedade consumista. Vive para Deus e para os Homens. Está ‘longe’ do Mundo, mas não está desligado dele. A sua tranquilid­ade é contagiant­e, mesmo para um não crente. A sua força espiritual impression­a. O medo não existe, apesar de rodeado por homens que têm outro Deus. O Mosteiro de Nossa Senhora do Atlas, os seus sete monges cristãos e os muçulmanos de Midelt provam que, apesar das diferenças, é possível viver em Paz!

A PEQUENA CIDADE DO MÉDIO ATLAS MARROQUINO SERVE DE RESPOSTA À INTOLERÂNC­IA QUE GRASSA PELO MUNDO

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LOCAL DE CULTO. Aspectos do Mosteiro de Nossa Senhora do Atlas
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