Uma assistência de sonho
A JOGADA DO GOLO DE PORTUGAL À HUNGRIA É REVELADORA DE TODA A GENIALIDADE DE CRISTIANO RONALDO. FOI UM MOMENTO ÚNICO E INESQUECÍVEL
Depois de o Cristiano Ronaldo ter feito um hat trick diante das Ilhas Faroé, no jogo de qualificação para o Mundial’2018, o que lhe permitiu ultrapassar Pelé e tornar-se no quinto melhor marcador do Mundo em jogos de seleções, fui jantar com dois amigos. Durante os aperitivos não parávamos de elogiar o CR7 e um deles, a certa altura, fez-me esta pergunta: “Sei que é muito difícil, mas, se tiveres de escrever só três episódios, de entre os mil em que Cristiano Ronaldo te deixou de boca aberta, quais seriam eles?”
Fizumapausadeváriossegundos
erespondi-lhe. Aprimeira teria a ver com o que ele conseguiu na sua sexta época como profissional. Era jogador do Manchester United e, nos cinco anos anteriores, conseguira um total de 60 golos, uma média muito boa para um extremo. Por esta razão, era algo impensável que, na época 2007/08 e em 49 jogos, ele obtivesse 42 golos. O impacto foi brutal! O ‘Bicho’ transformara algo impossível em perfeitamente possível! Asegundahistóriaseriasobre a perguntaimpactante que me fez um jornalista espanhol em 2013, no dia seguinte aos três golos que o Cristiano Ronaldo marcou na vitória de Portugal, por 4-2, na Irlanda. Com aquele hat trick, tinha ultrapassado o grande Eusébio como o segundo melhor marcador da história da Seleção Nacional.
“Queméomelhorjogadorportu
guêsde todosostempos. Eusébio ou Cristiano Ronaldo?”, perguntou-me, apanhando-me completamente de surpresa. O King foi um símbolo, uma referência e um exemplo a seguir para mim e para tantos outros jogadores portugueses da minha geração. Ele foi o maior de sempre. Podiam aparecer alguns príncipes, como foram, por exemplo, o Luís Figo ou mesmo eu, mas sempre estivemos muito longe do Rei. O King Eusébio era intocável para mim e nunca na minha vida imaginei que um dia me fizessem uma pergunta como aquela, porque era impensável que algum jogador português chegasse a estar perto do nível que atingiu o King, quanto mais igualá-lo ou ultrapassá-lo. Era uma tarefa completamente impossível para qualquer ser humano.
Depoisde ouvirapergunta, fiquei
sempalavras. Fiz uma pausa grande e disse mais ou menos isto: “O Cristiano Ronaldo ainda está a jogar. Está aí. Afazer uma carreira de sonho e incrível. É um fenómeno. Se um dia for a uma final de um Campeonato do Mundo ou da Europa com Portugal, pode vir a ser o maior de sempre. Claro! Mas agora ainda é cedo para falar nisso. É injusto. Tanto para o Eusébio como para o Cristiano.” Eraumaquestãoimpossívele que nenhumjornalistase atrevera a formular. Mas o CR7 fez com que esta pergunta começasse a fazer sentido...
“Pediste-meostrêsepisódiosde
Cristianoque tiveram mais impacto”, disse eu ao meu amigo. “Mas, se me pedires só um, sem dúvida que era este, porque rompeu com toda a lógica ”. O maior goleador da história do melhor clube do Mundo, o Real Madrid, era o Raúl, que em 16 anos fez 324 golos, e o ‘Bicho’, em apenas seis, bateu esse recorde. Julgo que até os grandes matemáticos do Planeta, quando olham para estes números, devem dizer: “Isto não tem lógica! Não é possível!”
Noúltimodomingo, diasdepois
daquele jantar, Portugal jogou na Hungria. O golo, já na segunda parte, deixou-me boquiaberto! Aassistência do Cristiano, com o pé esquerdo, é de máxima dificuldade. Ele está em cima da linha de fundo, tem o pé do defesa húngaro a centímetros da bola, tapando-lhe todo o espaço e ângulo para que pudesse cruzar. Mas este fenómeno, este autêntico génio, de primeira, com um toque subtil e com a força certa, conseguiu que a bola não tocasse no rival, passando por cima do guarda-redes que estava bem colocado no primeiro poste. Esta ação genial permitiu que o André Silva, que se encontrava três metros atrás do guardião e a dois palmos da linha de golo, se limitasse a empurrar a bola para dentro da baliza.
Pensoquetodososesquerdinos
puros, que fazem muitas assistências, ou fizeram, como é o meu caso, e até os melhores canhotos da história, como são o Messi e o Maradona, disseram naquele momento . “O CR7 acaba de fazer uma assistência perfeita e de sonho. E com o seu pé esquerdo!” Depois do jogo, liguei para o meu amigo e disse-lhe: “Este Cristiano tem 32 anos e continua a surpreender.”
AOS 32 ANOS, CR7 NÃO PÁRA DE SURPREENDER. QUE O DIGA ANDRÉ SILVA NO ÚLTIMO JOGO DA SELEÇÃO