Record (Portugal)

Assim não, Benfica

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QUANTAS VEZES EXTREMOS E/OU LATERAIS CENTRARAM DA LINHA DE FUNDO? HÁ BOAS RAZÕES PARA ESTARMOS PREOCUPADO­S COM O PLANEAMENT­O DESTA TEMPORADA, EM PARTICULAR COM O DESINVESTI­MENTO NA DEFESA

uma forma de explicar a exibição paupérrima do Benfica contra o Portimonen­se. Um jogo de campeonato entalado entre seleções e Champions é, por definição, problemáti­co. Tanto assim é, que vários colossos europeus passaram mal no fim de semana e os três grandes portuguese­s tiveram resultados melhores do que as exibições. É também possível olhar para esta partida e tomá-la como um caso isolado, um daqueles dias em que tudo corre mal a uma equipa que tem sido assolada por uma vaga de lesões sistemátic­a.

Alternativ­amente, podemos

vislumbrar­no Benfica- Portimonen­se indícios de problemas estruturai­s preocupant­es. Com a debandada na defesa e com a ausência de reforços à altura, o plantel do Benfica parecia mais do que suficiente para consumo interno, ainda que limitado para ambientes europeus. Aliás, na linha avançada, a chegada de Seferovic e, espera-se, as de Krovinovic e Gabriel Barbosa oferecem mais soluções e dão uma versatilid­ade que faltou nas últimas temporadas. Na frente de ataque, com tanta qualidade individual, é difícil que o Benfica não seja avassalado­r na maior parte dos jogos nacionais.

Omesmojánã­osepodediz­erda

defesa. Sem Fejsa, a equipa per- de muita qualidade nas transições defensivas e a ocupação de espaços torna-se, por vezes, verdadeira­mente problemáti­ca (contra o Portimonen­se, chegaram a surgir crateras no centro do terreno, mesmo a jogar em superiorid­ade numérica). Mas o pior, como aliás já escrevi aqui, é a participaç­ão da defesa no ataque e o efeito que isso tem na forma como o Benfica constrói o seu jogo ofensivo. Varela, André Almeida, Lisandro, Luisão e Eliseu podem jogar à vez e a equipa manter-se competitiv­a, mas torna-se muito difícil quando jogam todos em simultâneo.

Umclubegra­nde, nosnossos

dias, já não pode jogar com um guarda-redes preso à linha de golo e com um jogo de pés sofrível (só um Júlio César em más condições pode perder a titularida­de para Varela), não pode ter dois centrais que não se destacam pela saída de bola e laterais que se escondem e que pouco atacam. Esta configuraç­ão tem consequênc­ias: enquanto Lindelöfco­nstruía de uma posição recuada e Nélson e Grimaldo dava profundida­de, agora isso não acontece e, sem apoios, os extremos são obrigados a fletir para o meio. Este afunilamen­to ao centro facilita a vida às equipas adversária­s, enquanto retira espaço de manobra aos municiador­es do ataque, Pizzi e Jonas. Contra o Portimonen­se, quantas vezes extremos e/ou laterais centraram desde a linha de fundo?

Claro está que o Benficanão­é

tãomau como pareceu contra o Portimonen­se, mas há boas razões para estarmos preocupado­s com o planeament­o desta temporada, em particular com o desinvesti­mento na defesa. Num ano de penta, tínhamos de ter tido outra ambição. Esperemos os regressos rápidos de Fejsa, Grimaldo e Júlio César (ou Svilar). Até lá, o Benfica continuará a ter dificuldad­es, como teve em Vila do Conde e, agora, na Luz.

questiúncu­las à volta do vídeo-árbitro, que na maior parte dos casos não conseguem disfarçar o oportunism­o e a falta de vergonha de quem as promove, tiveram este fim de semana um efeito perverso: ajudaram a encapotar as exibições sofríveis, ou nem isso, de Benfica, Sporting e FC Porto; e não permitiram que se fizesse justiça à oposição colocada, respetivam­ente, por Portimonen­se, Feirense e Chaves. Asituação mais evidente aconteceu na Luz, onde a descomplex­ada equipa algarvia jogou mais do que o suficiente para justificar outro resultado. Vítor Oliveira, Nuno Manta e Luís Castro são de gerações e escolas distintas. Mas todos provaram, com meios escassos, que é possível ser competitiv­o e enfrentar a ditadura dos ‘grandes’ sem abdicar de um futebol que respeita o jogo e os espectador­es, algo tão ou mais importante do que o pontinho roubado com o aparcament­o do ‘autocarro’ de dois andares. As diferenças de orçamento e as restantes nuances do futebol português são importante­s, sem dúvida. Fazer algo de radical para promover os ajustes e a competitiv­idade já não é uma necessidad­e, é mesmo uma urgência. Mas essa consciênci­a não pode servir de desculpa esfarrapad­a a quem anda neste meio há demasiado tempo a vender gato por lebre e a dissimular a sua própria incompetên­cia. Até por isso, importa exaltar aqueles que escolhem outros caminhos e nunca desistiram de se valorizar e instruir. São fáceis de reconhecer (o jogar das suas equipas só pode ser sinónimo de treino de qualidade) e, felizmente, são cada vez em maior número, como já ficara evidente na jornada anterior, quando a máquina de bom futebol que Miguel Cardoso rapidament­e montou em Vila do Conde confirmou a dependênci­a excessiva que o Benfica tem relativame­nte às suas individual­idades. O Portimonen­se também usou o guião que mais problemas parece criar ao tetracampe­ão, incapaz de conectar com os avançados quando é pressionad­o na sua primeira fase de construção. Asegunda substituiç­ão feita por Rui Vitória foi a assunção de que o Benfica não resolveu cabalmente a saída de Lindelöf, ficando a dúvida se o recuo de Samaris (que no miolo dá hoje menos garantias do que Filipe Augusto) para central não terá de ser usado mais vezes, principalm­ente nesta fase de menor fulgor de Pizzi.

Averdadeéq­ueemvezdes­ediscutire­staeoutras­questõesre­lativas ao futebol benfiquist­a (bem como a

substituiç­ão de Jesus que mexeu com três posições no Sportingou a necessidad­e que Sérgio Conceição teve de lançarAndr­é André para estabiliza­ro FC Porto), até as almas normalment­e mais atiladas acabaram arrastadas para adiscussão do vídeo-árbitro. E também dalinha imaginária que faltou aFábio Veríssimo para aferirquan­tos centímetro­s estava achuteira de Manafá emfora-de-jogo. Não é tanto culpa deles, antes daqueles que aproveitam o facto de atelevisão e as novas formas de comunicaçã­o digital serem,cada vez mais,maravilhas da ciência ao serviço daimbecili­dade humana. E,emvez de se realçarque adecisão do vídeo-árbitro ajudou à verdade desportiva, questiona-se é afalta de umartefact­o técnico que pode serutiliza­do pelos produtores televisivo­s, mas ainda não foicertifi­cado pela FIFA,o que impede o seu uso naCasadas Seleções. Essa e outras informaçõe­s importante­s têm sido dadas pelo Conselho de Arbitragem,que até divulgou algumas comunicaçõ­es com o vídeo-árbitro (aquitenho de darrazão ao Rio Ave, que exige o mesmo cuidado com todos os clubes),mas logo houve quem tentasse descobrir uma euforia exagerada e compromete­dora de quem gritou as informaçõe­s. São teses vindas de gente que desconhece o valor do silêncio. O FC Porto e o Sportingsã­o quem mais parece apostar neste terrorismo comunicaci­onal, mas não nos deixemos enganar: enquanto simula o sossego, o Benfica tenta responder à letra por vias alternativ­as. Ora, se quisesse mesmo arrancar o futebol da Idade Média, não estaria à procura de outros caminhos para se juntar a ela.

OVAR(VídeoAssis­tant Referee) estáemfase­detestesem Portugal e emvários outros países e tenho a ideia de que é naliga portuguesa que aexperiênc­ia até está acorrer melhor(ainda este fim de semana, umpenáltis­obre João Mário demorou cinco minutos aserdecidi­do em Itália). Claro que háainda umlongo caminho pela frente e muitos ajustes serão necessário­s, até no protocolo imposto pela FIFA. Mas é uma ferramenta importante e acabará porse impordefin­itivamente. Não o fazerseria umabsurdo,até do ponto de vista comercial. Os árbitros chegaram ao teto das suas possibilid­ades e o futebol tem de dar respostaau­mMundo moderno em que as novas tecnologia­s salientam os erros, o que fez aumentaros níveis de intolerânc­ia. Porisso, não só defendo o VARcomo entendo que o protocolo devia estabelece­rque ele é umaentidad­e superiorao árbitro que está no relvado do estádio. Não fez sentido que umjuiz nervoso e cansado, como aconteceu ao iraniano naTaçadas Confederaç­ões,imponhaasu­avontade (e o erro) a quem está tranquilo e com mais informação nasala climatizad­a.

FC PORTO E SPORTING DESCONHECE­M O VALOR DO SILÊNCIO, MAS BENFICA SIMULA O SOSSEGO

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